O mito do amor materno
A maternidade vista de um ponto de vista histórico
O leitor deve estar empanturrado de tanta glicose derramada nos últimos dias em nome da glorificação da mãe. Sem desmerecer, mas minimizando a dimensão desta exaltação da progenitora, gostaria de propor um pouco de leitura como antídoto.
Iniciaremos com um livro chamado “Um amor conquistado: o mito do amor materno” (Ed. Nova Fronteira), de Elisabeth Badinter, onde é feita a descrição histórica do trabalho que deu a moralistas do calibre de Rousseau para convencer a sociedade e as mulheres da importância de se dedicar à maternidade. Foi no tardio Séc. XVIII que se estabeleceu a nobreza desta tarefa, antes delegada a amas de leite, onde a criança era recebida para o convívio com a família, se sobrevivesse, quando livre das fraldas e do peito. Em Philippe Ariès (História Social da Criança e da Família, Ed. Zahar), descobrimos que foi necessário esperar quase até o século XVIII para que se instalasse o “sentimento de infância”, ou seja a consciência da particularidade do infantil e dos cuidados de higiene e educação que daí decorrem. Ariès supõe que as famílias não se apegavam aos filhos pequenos porque a mortalidade infantil era imensa, já Badinter acredita que a mortalidade era imensa porque as famílias não se apegavam.
O fato é que mães choram, mas não só de lágrimas de ternura. A puérpera chora porque a situação toda parece incompreensível e superior às suas forças, a jovem mãe porque teme a exclusão social, supondo que será esquecida em todos os ambientes que agora está limitada para freqüentar, a mãe madura chora o vazio que resta depois de cumprida a tarefa, quando terá que reorganizar sua cabeça para priorizar o que antes era prescindível. Mas nenhuma delas assumiria estas lágrimas. Ela será acusada de depressiva, narcisista, possessiva, quando na verdade está numa recorrente crise de identidade. Estamos na colheita do sucesso da campanha publicitário-moral, iniciada há três séculos, que nos convenceu da naturalidade do amor materno.
Do lado dos filhos, todos viveram de alguma forma a exasperação com a qual a tarefa materna é desempenhada. Há momentos belos e dignos dos comerciais dos dias das mães, mas há o inferno do humor da mulher ao entardecer em casa, há as magoas conjugais que respingam no filho, este sem a opção de não estar ali.
A maternidade é importante na vida das mulheres, mas também é traumática para todos os protagonistas da cena. Um trauma curável, parte intrínseca da história de cada um, mas para elabora-lo temos que deixar de lado a publicidade, a vergonha e a hipocrisia.
Já tinha ouvido falar sobre o livro.quero,mas ainda não o li.Gostei do texto.
MUITO OBRIGADO! DEUS ABENÇOE!
Adorei o texto; tanto que vou comprar o livro.