Um cômodo vazio
Sobre Virginia Woolf e Simone de Beauvoir
“Vocês ganharam seu próprio espaço na casa até agora possuída exclusivamente por homens. […] mas esta liberdade é apenas um começo; o cômodo é de vocês, mas ainda está vazio. Ele tem que ser mobiliado; tem que ser decorado; tem que ser repartido. Pela primeira vez vocês são capazes de decidir por si mesmas quais poderiam ser as respostas. Eu poderia ficar e discutir essas questões e respostas de bom grado – mas não esta noite.
Portadores do anel
Sobre o valor da virgindade
Começou timidamente entre os jovens religiosos americanos na década de 90, o movimento chamava-se “True Love Waits” (o amor verdadeiro espera), ou simplesmente TLW. Trocando em miúdos, significa não somente permanecer virgem até o casamento, como ainda proclamar isso aos quatro ventos utilizando um “anel da pureza” com essa inscrição. Hoje, o acessório é popular entre meninas e rapazes graças a ser capitaneado por ídolos infanto-juvenis como Hanna Montana e os Jonas Brothers, que fizeram furor em recente passagem pelo Brasil.
A fila da padaria
Sobre relações amorosas contemporâneas
Devo ter uma obsessão por fila de padaria. Sempre que alguém se impacienta porque que não encontra um amor, acabo dizendo que pode estar em qualquer lugar -“até na fila da padaria”. Inconscientemente estou torcendo que encontrem um “pão”. Minha frase inspira-se numa gíria do tempo da Jovem Guarda: “pão” era um homem que ninguém, em sã consciência, expulsaria da sua cama.
Mãe Aranha
Sobre o filme Coraline e fantasias sobre a mãe
Costumo dizer a meus pacientes: – mãe só tem uma, graças a deus… As mães são, somos, muito chatas, muito mesmo, grudamos nos filhos com uma solicitude viscosa. Quando presentes, somos ostensivas, grandiloqüentes, mas, apesar disso, todo filho se queixa de algum tipo de descuido.
Sempre teremos Paris
Sobre insatisfação feminina e o filme Revolutionary Road
April e Frank Wheeler consideravam-se especiais, eram irreverentes, ele lutou no front da segunda guerra, ela queria ser atriz. A primeira pergunta que ela dirige a ele quando se conhecem: – o que você faz? Ele responde de forma literal, dizendo no que trabalha. Ela o corrige, não está interessada na realidade, mas no sonho: o que ele quer ser? Frank diz que está confuso, procurando se encontrar.
Reflexões equinas
Sobre escolha de caminhos
Embora no resto do Brasil se acredite que toda gaúcha é uma amazona, raras vezes montei a cavalo. Acho a idéia mais fascinante do que a prática. Sinto-me sobre um cachorro gigante onde não consigo olhar na cara para saber se está disposto a me levar ou derrubar. Geralmente eles são dóceis e nos levam a bons passeios, mas eles têm lá suas idéias e uma delas é “voltar para casa”.
Gris
Sobre cabelos brancos e auto-imagem
Estou reconciliada com meus cabelos. Os anos de litígio encerraram-se com um acordo diplomático. Não bastasse a cor original, um castanho sem graça e os fios grossos e indomáveis, ainda os brancos tomaram conta da cabeça aos trinta. Durante as décadas de discórdia, as batalhas incluíram todos os tons de vermelhos, cobres e mechas possíveis e imagináveis. Cansada das labaredas vermelhas dessa guerra de tintas, decidi parar de pintar faz uns quatro anos.
Ciúmes
Sobre esse sentimento, Revista TPM
Catherine Millet gostava de entregar-se aos homens. Teve muitos, principalmente em grupos, com a conivência de seu marido. Ela publicou sua experiência num best seller chamado: A vida sexual de Catherine M., em 2001. Já o esperado sucessor desse relato picante foi surpreendente: chama-se Dia de sofrimento (no Brasil só em 2009) e narra as dores que sentia, consumida pela angústia da descoberta dos encontros do marido com suas sucessivas amantes. Não se trata de hipocrisia da parte dela, nem de cegueira relativa a seus próprios atos, acredita que assumir uma sexualidade muito livre não nos impede de cair na armadilha assustadora do ciúme e não nos protege de antemão contra a dor que a acompanha.
A promessa das máquinas
Sobre o trabalho doméstico, Revista TPM
Eu tinha duas famílias prediletas, ambas do futuro: Os Jetsons, um desenho animado, e os Robinsons, do seriado Perdidos no espaço. Achava-se que acabaríamos usando macacões prateados colados ao corpo e botinhas que finalizavam essa espécie de malha unissex. Era década de 60 e na televisão o porvir era representado igual ao presente, mudando só o figurino. Os homens ainda trabalhariam fora, enquanto as mulheres cuidariam do lar, mas haveria um atenuante: os robôs. Os Robinsons tinham um exemplar macho e os Jetsons tinham Rosie, uma eficiente empregada automática.
Quem é o novo macho?
Sobre o livro Canalha! de Carpinejar
Imagine se nossos seios excitados ficassem eretos sob a blusa, alardeando que uma fantasia erótica atravessou o pensamento, numa reunião de trabalho! Como nos sentiríamos se a cada mínimo gesto suspeito as amigas gritassem “sapatona!”. Com os homens é assim. Não temos dúvidas de que ser mulher sempre foi difícil, mas achamos que ser homem é fácil. Errado. Na dúvida, pergunte ao Fabrício Carpinejar. As respostas virão sob forma de crônicas engraçadas e líricas, em seu livro “Canalha!” (Ed. Bertrand Brasil).