Cicerone do nosso passado (prefácio ao livro de Cláudio Moreno)
O encanto presente de textos de trinta séculos.
Poucos consensos são tão unânimes: uma segunda língua é fundamental. Os argumentos geralmente são práticos: os bilíngues conseguem melhores empregos e ganham mais, ou conseguem melhor conexão com o mundo globalizado. Certo. Mas isso fica muito aquém das vantagens cognitivas que o habitar outro universo linguístico nos proporciona.
Quando nos aprofundamos em outra língua, descobrimos o intraduzível. Damo-nos conta de que o quadro da realidade feito por outra língua é distinto. Às vezes isso é visível em coisas prosaicas, como a maneira que vemos as cores, ou em coisas mais complexas, como o modo que cada uma dá conta de sensações, ou a expressão de conceitos de um modo que não nos ocorria.
O desafio de traduzir instala uma questão essencial, nem sempre há correspondência, e esse é o melhor ensinamento da tradução. Ou seja, não existem conceitos abstratos partilhados universalmente, o que existe é a história de uma comunidade linguística e sua particular experiência de circunscrever o real. Cada uma delas faz isso à sua maneira, cada qual lê o mundo de uma perspectiva própria.
Essa mesma experiência amplifica-se ainda mais quando estudamos outra cultura e sua história. Só com a imersão em outra forma de entender o mundo, de como é ou foi viver nela os pequenos e grandes sonhos, podemos de fato olhar para a nossa modalidade e não tomá-la como natural. Cada grupamento humano tem o seu jeito de hierarquizar valores, de pensar a moralidade e os costumes.
Enquanto permanecemos monoculturais tendemos a ver nossa experiência como a única e óbvia, ainda que imperfeita, maneira de enxergar a vida e de nos conduzirmos nela. Apenas o estudo ou a experiência de uma cultura distinta da nossa possibilita chacoalhar o senso comum e desvelar a limitação da nossa compreensão. A ideia de que possa existir um único ideal para todos os homens, ou uma forma certa de levar a vida, ou ainda verdades gerais para conduzir a humanidade, tudo isso fica sem sentido quando múltiplas experiências humanas são confrontadas. O mundo deixa de ser um vetor evolutivo e torna-se um mosaico complexo.
Já nos primeiros mergulhos percebemos que para conhecer outra cultura é necessário coragem intelectual, suspendemos nossas convicções e vemos nosso chão de certezas ficar instável. Mas o aprendizado é inestimável, vale a pena a vertigem, pois é a única vacina segura contra o fundamentalismo, o extremismo, a arrogância intelectual, e a contagiosa tolice do nosso mundo, tão cheio de si, que confunde domínio técnico com sabedoria. Em síntese: conhecer bem uma segunda cultura também é fundamental.
A cultura da Grécia Antiga é a mais estudada do Ocidente, a que mais dispõe de fontes históricas e, ao meu ver, o seu estudo é o que oferece mais retorno intelectual e, ao mesmo tempo, como um brinde, mais encanto. Embora tenhamos todos uma porção grega, já que uma das nossas mais influentes raízes é helênica, a cultura da Grécia Antiga é muito distinta de tudo que nos tornamos. Suficientemente distinta para ser esse espelho invertido que nos proporciona um olhar para o presente que semeia dúvidas sobre nossas verdades; suficientemente próxima para um texto de trinta séculos nos comover com paixões que são como as nossas.
Nunca lembro exatamente quando me descobri grego. Coloco como marco arbitrário a leitura de As Histórias de Heródoto. Vivi esse livro como se fosse pessoal. Era a minha luta contra os persas, estava em cada batalha, lamentando as perdas, enterrando os mortos, vibrando com as vitórias. Sabia que ali fundava-se algo decisivo para a nossas civilização ser o que é. Nunca mais parei, creio que são uns 30 anos de dedicação a causa da Grécia. Li os clássicos e comentadores e tive a sorte, que aqui compartilho com vocês, de ter um amigo que nunca me deixa sem respostas para os detalhes e passagens obscuras desse universo fascinante.
Se você fizer como eu, escolher a cultura grega como sua pátria imaginária para se descentrar do nosso tempo e, só assim, perceber algumas das mais importantes tramas invisíveis que nos norteiam, aqui está um excelente guia desse labirinto. Poucos enfrentarão com sucesso os dez séculos gregos clássicos, sua longa e complexa história e sua ainda mais rica mitologia sem um cicerone erudito, e curioso. O professor Claudio Moreno há muitos anos vem ensinando com generosidade os mais importantes passos para quem se lança na odisseia de conhecer a magia da Grécia mítica.
A experiência deste livro e dos outros do autor, é mergulhar na Grécia antiga e nos seus comentadores. Ele se debruça sobre o passado para tentar descobrir quais as perguntas que os homens sempre se fizeram e como eles as responderam. O professor Moreno já passou por muitas das perguntas da vida e já se curou da arrogância dos que acreditam que existam as respostas certas, mas sabe que existe uma história dessas respostas, e é nessa sua variedade de experiências que encontramos a farta sabedoria que pode nos ajudar a construir a nossa própria conclusão. Em resumo, ele resgata no passado os fios que nos oferece para que possamos costurar as dúvidas que temos no presente. O resultado é que saímos de suas páginas com um olhar mais acurado sobre o nosso tempo, os nossos semelhantes e sobre nós mesmos.
Como o autor nos avisa, existe uma Grécia alemã, uma francesa, cada povo, cada comentador, faz a sua imersão e resgata as joias que lhe parecem melhores. Eu percorri muitas, algumas eruditas, outras populares, em poucas achei um tom tão didático sem perder o rigor e erudito mantendo o encantamento. Essa é a Grécia do professor Moreno!
PS: eu só fiz o prefácio em troca da promessa que depois de ter contado a Ilíada, no seu monumental Tróia, iria nos brindar com sua versão da Odisséia, Esperemos.
Humor, coisa seríssima!
Como é que funciona o humor? Quais seus efeitos? Abrão Slavutzky explica e Mário Corso recomenda!
O humor é isso que todo mundo sabe o que é, desde que ninguém nos pergunte. Pois Abrão Slavutzky, autor de Humor é Coisa Séria (Ed. Arquipélago, 2014, – melhor ensaio de Humanidades Açorianos 2014) se pergunta. Quem conhece o autor sabe que ele gosta do tema, faz tempo que ele ronda com propriedade essa questão fazendo-nos pensar no assunto, mas agora chegou sua obra definitiva sobre a matéria.
Viver não é simples, nunca foi fácil e a felicidade é um artigo raro, essa é a crença dos psicanalistas, dessa premissa eles partem e pouco prometem. Como psicanalista que é, esse é o ponto de partida do autor. Sua tese é que entre as possibilidades de escapar das várias modalidades de sofrimento inevitáveis, o humor se destaca como uma das ferramentas mais úteis. Ele não é panaceia, cura para todos males da condição humana, mas está entre seus recursos um alívio para as dores inevitáveis da nossa triste sina, o que não é pouco.
De início o autor vai consultar a psicanálise, dever de ofício, mas se apoia em filósofos e literatos de todas as épocas para tentar cercar esse conceito fácil de perceber, mas tão difícil de explicar, que é o humor. A intuição nos diz que o humor nos ajuda, que põe óleo nas engrenagens da vida, mas como é mesmo que isso acontece e qual seu alcance, são as questões que o Slavutzky responde. É nesse ponto que o livro se mostra mais interessante, não é direcionado para psicanalistas. Embora dialogue com a psicanálise, o alvo é maior, é o público leigo que quer saber mais sobre si mesmo e sobre esse conceito. Afinal, não se trata de um recurso técnico, mas sim de um modo de ver a vida.
O autor nos lembra que a teoria inventada por Freud veio do nada e precisou criar um ar de seriedade para mostrar-se respeitável. Imagine que começou dando voz aos sonhos, às fantasias, aos desejos recônditos, falando do papel da sexualidade na vida, e pior, da sexualidade infantil. Isso já era subversão demais para o século XX em seu início, e em certos casos, segue sendo. Portanto, contra inimigos de toda ordem, a psicanálise se fez de mais séria do que era para poder ser aceita. Apesar disso, entre os primeiros escritos do mestre vienense o chiste ganhou destaque, centenas de páginas explicando sua intimidade com as manifestações do inconsciente.
Em busca de uma apresentação formal, na prática clínica dos psicanalistas com seus pacientes adultos toda possibilidade de brincar acabou ficando relegada a um plano menor. Uma interpretação, por exemplo, é uma mudança brusca de sentido: algo que se acreditava ter um significado acaba sendo lido de outro modo a partir da fala de um analista. Ora, às vezes isso provoca uma gargalhada mesmo que estejamos falando de algo grave sobre a vida do paciente. Provavelmente a intenção do analista nem era essa, mas pela peculiaridade do paciente o riso brota. É essa dimensão que o autor quer resgatar, mostrar como uma analise pode ter momentos divertidos sem que os efeitos sejam menos importantes. Em certas ocasiões, a única cura possível é rir daquilo que antes nos fazia sofrer.
Existe uma piada que fala mais da natureza da análise do que os analistas gostam de admitir. Ela é assim: um sujeito encontra seu amigo e lhe pergunta como vai. Sabe que ele tem problemas, mas que agora vai ao analista. O amigo lhe responde que tudo vai bem, que está ótimo, melhor que nunca. Ao que o primeiro lhe pergunta: deixaste então de te cagar nas calças? E o amigo responde: que nada, sigo me cagando, mas nem me importo!
A piada é precisa, fala de como muitas vezes o que muda numa análise, – e porque não dizer, na vida – não é a realidade fática, mas sim a condição de como encaramos o sintoma. O que fica diferente num segundo momento é como a realidade que nos desfavorece é recebida. Não a alteramos e sim aprendemos a conviver com ela com bom humor. Ora, uma análise pode até ser bem mais do que isso, frequentemente mudamos radicalmente comportamentos, destinos tomam rumos diferentes quando questionados. Só que isso não precisa ser grave nem triste, há ocasião para as lágrimas, mas também para o riso. Em certas ocasiões, temos que ser sinceros, só é possível conquistar um golpe de humor sobre uma desgraça da qual não conseguimos escapar e isso já é melhor do que nada.
Não passa despercebido ao autor que o humor tem seus aspectos perigosos, especialmente quando exageramos na autocrítica, mesmo que esta tenha seu lado aparentemente bem humorado. Ele lembra que muitos comediantes que fizeram sucesso falando mal de si mesmos, desdenhando suas origens e hipertrofiando seus defeitos de maneira cômica, terminaram seus dias numa depressão ou acabaram suicidando-se. Em resumo, usado de qualquer maneira, e exagerando na dose, rir de si mesmo pode dar vazão a uma pulsão auto-agressiva letal. O humor é uma saída, mas não a única.
Abrão nos demonstra como humor é um termômetro da liberdade que existe dentro de uma família, de uma instituição, de um governo. O índice não falha, se podemos debochar de tudo, se não existem assuntos tabus, estamos num espaço livre. Os ditadores, os autoritários de todas as seitas, sabem bem do poder corrosivo do riso, por isso o proíbem.
Ao terminar de ler o livro, o que nos fica é uma ideia de que o bom humor é um estilo a ser cultivado, uma estratégia de sobrevivência. Há um caminho para uma existência menos penosa e passa por ele. Não é pouca coisa neste nosso tempo viciado em antidepressivos, que tem a tristeza como bicho-papão. A ambição do autor tem dois vetores, primeiro é nos ganhar para o lado terapêutico do bom humor na vida cotidiana. Segundo é desfazer a ideia de que a verdade obtida pelo humor seria menor. São milênios de desdém sobre o humor e suas consequências, o título é bem explícito – vamos levar o humor a sério. Mas é claro que para isso, se o paradigma do humor for mesmo incorporado e entendido, dentro de sua lógica paradoxal, ninguém precisa ficar tão sério assim!
Tudo ou nada
Resenha do livro “Tudo ou Nada”de Luiz Eduardo Soares, que é uma boa contribuição à discussão sobre toxicomania, que costuma mobilizar mais preconceitos que reflexões.
Existem livros que a gente não sabe porque começa, tropeça neles, não seria nosso tipo de literatura. Tudo ou Nada de Luiz Eduardo Soares foi um desses acasos felizes. Não pelo autor, pois o tenho na mais alta consideração, tanto intelectualmente como por sua trajetória. É o mote que não me atraía. No que a história particular, verídica, de um carioca da elite que cai no mundo das drogas e depois no negócio da droga (em grande escala) poderia interessar a mim?
Meu erro foi esquecer que o autor é antropólogo e, para essa tribo, o olhar é sempre total. Eles miram para um objeto considerando todas as variáveis, das mais óbvias às mais recônditas. É aqui que o livro encanta, tratando a droga como ela é: um fenômeno complexo, múltiplo, que abarca todos os campos do espectro psicológico e social. A grande maioria, assim como a mídia, não fazem essa ressonância ampla. Habitualmente trata-se da questão da droga na bitola estreita, entre a polícia e a medicina, em outras palavras, entre bandido e doente. A questão é que a droga é muito mais do que isso e o desconhecimento, ou a resistência à admitir sua complexidade, é que fazem com que ela tenha um custo social tão elevado.
Poucas páginas e já estamos querendo saber como Lukas vai sair da enrascada em que está, e como foi mesmo que entrou. O livro nos fisga como uma história de detetive, mas a isca se revela maior e mais saborosa. Ao longo da história, o autor começa a contextualizar os passos e as escolhas de Lukas, nos conta os dramas particulares, mas amplia o leque para os impasses da sua geração, do que se passava então no mundo, do que se acreditava e como Lukas lidava com esses campos de força. Tudo muito equilibrado, de modo que nem nos damos conta quando o contador da história se cala e o ensaísta começa. É um livro bem escrito e generoso com o leitor, nos divertimos aprendendo, sofremos com Lukas, mas como ele, saímos melhores ao fim do livro.
Como o autor entende bem do sistema de repressão às drogas, entenda-se a polícia, o judiciário e a cadeia, seus mecanismos são esmiuçados com uma clareza ímpar. Visto que a trama é internacional, a diferença de políticas em relação às drogas também é descrita. Portanto, o livro serve para o leitor informar-se com profundidade sobre o universo da droga, do tráfico ao consumidor, saindo da visão moralista e limitada que a mídia nos vende.
Abundam livros e reportagens sobre drogas, mas raras convidam ao pensamento. As discussões costumeiras sobre toxicomania se travestem de científicas, mas, de fato, não ultrapassam o campo moral: nos posicionamos frente a ela como o fazemos frente às diferentes formas de obter prazer. Condenar as drogas é condenar um gozo que consideramos errado, e vamos ser tão mais radicais e aferrados contra ele, quanto maior for a tentação. O preconceito é proporcional à barreira que temos que erguer, como resistência, para fazer frente ao invasivo que supomos que esse gozo possa ser. Poucas coisas nos assustam mais do que formas diferentes (das nossas) de obtenção de prazer. É por essa dificuldade que, quando falamos sobre drogas, pouco levamos em conta a realidade e sim nos afundamos em discussões bizantinas que escudam uma posição moralista. Posamos de cientistas para esconder um pastor evangélico.
Inflacionamos o problema das drogas enxergando a totalidade dos problemas com ela como se sempre fossem como são nos casos extremos, em que ela destrói o consumidor. Um paralelo simples ajuda a entender: seria como se nós classificássemos todos que bebem álcool como alcoólatras. Desde seu amigo que toma todas, todos fins de semana, até sua tia que toma um cálice de champagne por semana, ao o sujeito que toma uma cerveja no dia do seu aniversário. Imagine classificar todos como bebedores que abusam. Infelizmente é com essa régua torta que medimos e pensamos a droga, enquanto na realidade ela é consumida em larga escala, por muitíssimas pessoas, durante muito tempo, e nem por isso ela leva a uma paralisia da vida. A droga pode destruir vidas, mas em muitos o consumo acha um equilíbrio estável. O paradigma de que as drogas começariam bem, mas em algum momento iriam desestabilizar e destruir o seu usuário é falso. O fato de acontecer algumas vezes não quer dizer que aconteça sempre.
Muitos dos profissionais que lidam com ela sabem disso, porém seguem exagerando os efeitos da droga numa política de nos afastar dela. O estrago, quando acontece, seria (e é) tão grande que uma mentirinha útil não viria mal. Os fins justificariam os meios, o problema é que sabemos que são os meios que fazem os fins. Ou seja, a política das drogas funciona de forma paternalista, na intenção de proteger, infantiliza o interlocutor. Não conversa com ele de adulto para adulto, conversa como se ele fosse um adolescente rebelde e mal informado sobre o alcance do inferno das drogas. E os conselhos são um samba duma nota só: pare de usar. Quando você ouvir alguém dizer que a única forma de lidar com as drogas é a abstinência total acredite, essa é a forma que ele tem de lidar com a droga, e talvez seja a possível para muitos, mas querer que todos ajam dessa maneira é contraproducente.
Esse é um dos casos em que somos obrigados a explicitar nossas posições para não cair na lógica rudimentar: se ele não acredita em nosso deus, deve ser amigo do diabo que mais tememos. Para evitar mal-entendidos adianto: não uso drogas, não recomendo o uso drogas, e não raro, ajudo pessoas que se perderam por usá-las. Conheço de perto o poder destrutivo que as drogas podem ter, mas não consigo fechar os olhos para a realidade efetiva da toxicomania generalizada em que vivemos. Talvez devamos assumir que os drogados não são necessariamente só os outros. Em certo sentido, somos quase todos, pois há uma disseminação ampla se não deixarmos de fora as drogas legais para pensar a questão. Sem isso, sem levar em conta todos os fatos, não teremos possibilidade de enfrentar os sérios problemas gerados pela dependência.
Não é possível pensar esse momento toxicômano sem falar do mal-estar social, não vivemos no melhor dos mundos, ao contrário, é um mundo que precisa de muita droga para funcionar. É certo que temos problemas por nos drogar, mas é muito mais verdade que nos drogamos por que temos problemas. Vivemos premidos por exigências de boas performances profissionais, ter sucesso na vida amorosa, ser bonito, cuidar do corpo, e qualquer falha num setor arruina o todo. São ideais que criam uma multidão de fracassados e é para não fracassar, especialmente na questão central que coroa tudo: a exigência de ser feliz, que usamos tantos aditivos. Como a vida hoje não é para os fracos, não há espaço para tristeza, afogue-a com qualquer coisa.
A política de tolerância zero não funciona no caso da droga e uma sociedade livre de drogas é, neste momento, nesse mundo competitivo e ansioso, uma utopia ingênua. Vivemos numa sociedade fortemente toxicômana e não nos reconhecemos como tal. O pai não dorme sem o uísque e o rivotril, a mãe toma anti-depressivos fazem anos, o caçula não estuda sem ritalina, mas o único errado é o filho que fuma maconha. Temos remédios para dormir, para ficar acordado, para ficar mais focado, para viabilizar uma ereção, para calar a angústia, para driblar a depressão, para não oscilar o humor, enfim, a lista é grande. Sinto dizer, mas se mediamos nossa relação com a realidade utilizando drogas, elas estão simbolicamente no mesmo plano. Portanto, as compradas do traficante da esquina, ou receitadas por um médico, se o uso for ajudar a suportar a vida, talvez elas encontrem algumas coincidências no uso. O que devemos reconhecer é que é bem difícil não usar drogas para amenizar a angustia de existir e de enfrentar a realidade. Minha questão é: por que só as ilegais são combatidas com veemência? Por que o establishment grita tanto contra as drogas ilegais e aceita tão fácil a medicalização massiva até de crianças? Os excessos estão dois dois lados. A banalização da medicalização tarja preta sinaliza que um incremento químico faz a diferença. Então, por que não a maconha, pensam os jovens? Faz parte da toxicomania a crença que a realidade é desbotada, insuportável e intransponível sem um determinado elemento químico, ora, esse raciocínio vale para todas as drogas.
Minha recomendação do livro é também por que nele encontrei uma das melhores descrições, tanto poética como no relato empírico, do vazio a que a droga pode nos levar, dos labirintos circulares, das promessas que não se cumprem. O autor nos conduz a passear sem medo entre escombros de sujeitos que caíram em seu canto enganoso, e essa é a melhor política: conhecer sem preconceitos o mundo da droga. Temer o desconhecido é natural, por isso a política de exorcismo encontra eco popular. Mais difícil é admitir-se espelhado, nem que seja remotamente, naquilo que condenamos mas nos diz respeito. Nossos piores preconceitos são dedicados às maiores tentações e a droga não foge a essa regra. Este livro transpõe um pouco do abismo da ignorância, relativo a algo que compreendemos inconscientemente, mas a consciência condena. Eis uma experiência de lucidez que nenhuma substância turva, mascara, alucina. A realidade é difícil e Soares nos proporciona uma incrível viagem de cara limpa.
Barbie: usos e abusos
Na Boneca Barbie brinca-se com a ilusão de que existiria um jeito certo de ser mulher.
Estima-se que a população de Barbies já chegaria a um bilhão. Perde apenas para a população da China e da India, e, com esse número, poderia pleitear um assento no conselho de segurança permanente da ONU. Esse grande número, e uma cultura, ainda que não profunda mas vasta, não intimidou Fernanda Roveri em sua incursão ao mundo da Barbie. Saiu recentemente seu livro Barbie na educação das meninas: do rosa ao choque. (Annablume editora, 2012). O trabalho é sobre a boneca, em primeiro plano, mas se abre para o questionar o sexismo radical dos brinquedos que estão em oferta para nossos pequenos.
A autora nos fornece um panorama da origem e evolução desse brinquedo, desde os impasses de sua criação, até as estratégias de venda que a tornaram a mais importante boneca já concebida. Na apreensão do problema a autora não se restringe aos efeitos culturais: vasculha dados sobre sua produção, a toxidade dos materiais, os chineses quase escravos que as fabricam, além das brigas nos tribunais, em inúmeras querelas jurídicas. Revela os bastidores da indústria de brinquedos, a qual nada têm nada da magia que seu produto final tenta encarnar. É a mesma estratégia agressiva dos outros setores, com seus golpes abaixo da cintura, mas que nos é vendida como ousadia, criatividade e competitividade. Depois do livro é difícil ver a Barbie com os mesmos olhos: com a lupa que o livro nos empresta, o brinquedo da Mattel ganha uma aura sinistra.
Quanto à alma do produto, pois os brinquedos nos chegam hoje acompanhados de um universo simbólico, como nos lembra a autora, mais que uma boneca, Barbie é um modelo de feminilidade. Porém trata-se de uma versão rebaixada, estereotipada, uma boneca do século XX com personalidade do século XIX. Ela não entende de matemática e gasta quase todo seu cérebro para vestir-se e adquirir acessórios. Bom, na verdade, seria extraordinário se não fosse assim, a Mattel não é uma escola nem tem finalidades educativas, apenas re-transmite os valores contemporâneos mais tradicionais.
Tendo a discordar do livro apenas em um ponto: quanto à maneira como concebe a transmissão dos valores sociais para as crianças, como se fosse sem mediação. Ou seja, como se um objeto falasse por si e a criança reproduzisse esse discurso ou o tomasse sem filtros. Na verdade, mesmo que esteja carregado de significados e mensagens, nenhum objeto em si tem tanto poder. As crianças têm muito a nos ensinar sobre a relação com os objetos, pelo menos aquelas que são saudáveis o suficiente para brincar no sentido pleno da palavra. Brincar é criar, é corromper o brinquedo ao sabor de sua imaginação. Somente crianças muito isoladas, com parcos recursos intelectuais, e ou com transtornos de saúde mental, tomam os brinquedos e mensagens culturais de forma direta.
Entre a criança e o brinquedo existem muitos mediadores e os pais são fundamentais nesse cálculo. As crianças não têm orçamento próprio, há sempre um adulto entre ela e seu brinquedo. Portanto, mesmo que o pedido venha do pequeno consumidor, a compra é um aval para que esse objeto faça parte da vida da criança. A pergunta que se impõe nesse caso é: como podemos dar tal boneca às nossas filhas? Será que desejamos que elas tenham horizontes tão estreitos? É uma aposta em sua futilidade? Revela nossa visão verdadeiramente retrógrada da condição feminina?
A resposta não é difícil: a boneca Barbie pode servir para estabelecer parâmetros externos sobre aparência das mulheres, portanto transmite valores estéticos, que servem para calar as inquietações dos pais a respeito da formação da identidade de gênero. Embora hoje os gêneros estejam entrelaçados como nunca, tanto no papel desempenhado no mundo, quanto na aparência, ainda nos sentimos muito inquietos relativo a isso. Existe um apego aos indícios que caracterizam um gênero ou outro, já que nos restam tão poucas certezas sobre a identidade que queremos, podemos e devemos ter. Parecer mulher ou homem é ainda um valor fácil de adquirir e ostentar. Os pais contemporâneos sentem-se inseguros de conseguir transmitir aos filhos o suficiente para que eles sejam “maravilhosos” e “vencedores”, tão perfeitos na realidade quanto na sua fantasia. Se os filhos se parecerem em gênero ao sexo em que nasceram, os pais se tranqüilizam, missão cumprida, pelo menos nesse quesito.
Os brinquedos marcadamente femininos ou masculinos (ou seja, a maioria deles) cumprem essa função de assegurar aos pais do destino “correto” de seus filhos. A tolerância às ambiguidades sexuais, quando ela existe, funciona com os filhos dos outros. Quanto aos próprios, só os extremos bem marcados são bem vindos, por isso os pais são cúmplices da industria de brinquedos. Pais que compram Barbie sabem o que fazem, e pagam, concordando ou não se importando, com o efeito colateral de uma identidade feminina superficial e vazia que acompanha o brinquedo. A Mattel trafica valores discutíveis, é uma indústria carente de qualquer de ética, concordo. Porém, o consumidor, assim como a criança, não é tão tolo: pagamos caro pela ilusão de uma certeza, a de que existiria um jeito certo de ser mulher.
Por sorte, as mulheres, com suas inúmeras revoltas e conquistas, apesar de brincarem com bonecas tão fúteis, estão cada vez menos Barbies.
Publicado na Revista Carta Fundamental – Edição de maio de 2012
Nomeando o sofrimento
Resenha do “Livro Negro da Psicopatologia”, sobre o caráter inclassificável do sofrimento psíquico.
Em 1992 Richard P. Bentall escreveu um artigo para o Journal of Medical Ethics, seu intuito era propor que a felicidade fosse reconhecida como um transtorno psiquiátrico e enquadrada nas futuras classificações. Afinal, segundo ele, esse estado é estatisticamente anormal, sendo acompanhado por alguns sintomas, entre eles uma disfunção cognitiva, no sentido de uma percepção distorcida da realidade. As pessoas afetadas apresentam um quadro caracterizado pelo estado de euforia sem uma contrapartida real, o que pode ser uma desvantagem adaptativa. Não raro, nota-se uma relação elevada desse estado com comportamentos maníacos, obesidade e ingestão de álcool. Talvez, argumenta o doutor, seja reflexo de uma anomalia do sistema nervoso central, um estado neurobiológico de desinibição. O fato dessas pessoas não se considerarem doentes é irrelevante, pois é assim em muitos casos, nos quais os pacientes geralmente não têm crítica de seus estados patológicos. Por fim, exorta seus colegas a encontrar tratamento adequado a esse estado mórbido que quer chamar de: major affective, pleasant type.
Bentall utilizou em sua argumentação, para enquadrar a felicidade como distúrbio, o mesmo método que funda as categorias psiquiátricas que estamos acostumados a usar. Talvez esse artigo irônico seja o melhor meio para contestar a fragilidade conceitual que alicerça a nosografia que usamos.
As classificações das doenças mentais surgiram para que os profissionais das áreas da saúde mental pudessem falar entre si sobre os pacientes e para, de alguma forma, poder prever certa evolução. Ou ainda porque um raciocínio dessa natureza se tornou necessário para efeitos sociais: como para fazer estatísticas, pensar políticas públicas, ou ainda normatizar coberturas por planos de saúde. O dilema é que essa busca por uma classificação científica inclinou os esforços da psiquiatria numa direção pouco produtiva no sentido da evolução da cura.
De fato, atribuir um nome ao sofrimento não necessariamente ajuda a combatê-lo. Embora seja fundamental que o profissional de saúde mental esteja sempre atento ao quadro com o qual está lidando e trabalhe em consonância com suas hipóteses clínicas, um diagnóstico preciso (considerando que isso seja possível), ao contrário de todos os quadros somáticos, não é imprescindível para um bom tratamento. Um diagnóstico aproximado é uma bússola suficiente, até porque deixa o profissional mais atento para sutilezas e mudanças bruscas. E por uma outra razão central: é simplesmente impossível enquadrar e classificar descritiva e meticulosamente as formas de sofrimento humano, podemos apenas ter aproximações, nada mais.
Esse espírito classificatório induziu, mesmo que os idealizadores dessas descrições não pensem com essa estreiteza, para uma visão essencialista da doença mental: passa a idéia que se alguém tem certa doença está fadado a um funcionamento daquela ordem; que o quadro seria uma forma de ser daquele sujeito, que cada sofrimento teria uma forma standard de se manifestar. Os diagnósticos na verdade são aproximações provisórias de formas de funcionamento mental, e não raro são mutantes. Embora muitos pacientes mantenham certa lógica por um tempo, outros funcionam de uma maneira agora e outra amanhã e o quadro de ontem não necessariamente era um desses dois. Um diagnóstico seria mais uma forma de “estar” não de “ser”, por isso a fluidez faz parte. O melhor é usar um diagnóstico como se usa um andaime numa obra, aquilo não faz parte realmente e será retirado no fim. Apenas ajuda (ao terapeuta, e raro ao paciente, enquanto uma direção medianamente confiável) durante o processo de cura em curso.
Atribuir um nome ao sofrimento acarreta ainda outro efeito colateral negativo: quem sofre geralmente passa por uma crise de identidade, portanto se alguém, numa posição de poder social, diz que ele é tal coisa, é bem provável que ele adira ao rótulo independente da adequação deste à sua realidade. Afinal, é melhor ter um nome para uma doença do que nada. Embora a nomeação forneça um ganho rápido aplacando a angústia, a falta de significação para sua dor, logo após faz resistência aos outros passos, ancorando o paciente numa formação imaginária de sentido, e acaba atrapalhando a evolução da cura. Já a recusa a dar um nome ao sofrimento, quando isso é possível, lança o sujeito numa busca própria por definir quem é, o que de fato está acontecendo, e qual seu caminho para sair da crise.
As formas do sofrimento são diferentes porque os humanos são extraordinariamente diversos, o que torna a empresa classificatória desanimadora. Não obstante, certos profissionais seguiram em frente, mas para conseguir lograr uma lógica operante tiveram que retirar variáveis dessa equação, especialmente os vetores históricos e sociais. Por exemplo, pense em entender o sofrimento atual sem levar em conta os fatores como a mudança no equilíbrio de poder dos sexos e das formas de gozar, que retirou todas as (falsas) certezas que nos apoiavam até meados do findo século XX; a família, fonte ancestral de apoio psíquico, sofreu uma revolução que esfarelou as formas tradicionais em apenas duas gerações; o outro arrimo que era a religião perdeu muito de sua força, ou ainda a invenção da adolescência que tomou a sua forma no pós-guerra e coloca num limbo provisório, e em pé de guerra, uma parte da população. Sem falar do culto ao corpo e à saúde, ou ainda a busca da felicidade a qualquer preço, que se constitui no andar debaixo do momento de forte drogadição que vivemos. Suprimindo variáveis como essas, o resultado é uma visão de homem onde ele se parece a uma máquina neural, como se fosse possível uma forma de ser atemporal, apenas uma natureza básica imutável que apenas adapta-se à força das ondas. Visando a objetividade apagou-se a fala, pergunta-se apenas por comportamentos, humores, por sintomas visíveis e dessa massa de informações tenta se extrair um diagnóstico.
Desnecessário lembrar que esse tipo de raciocínio tende a ser fortemente adaptativo, pois, se perdemos a crítica da sociedade e das instituições onde estamos inseridos, é como se todos devêssemos ou pudéssemos nos adequar a qualquer sociedade em qualquer momento. Longe de ser um desvio epistemológico, esse ethos classificatório é a expressão direta da forma utilitarista e mercantilista de pensar o homem, ou seja, ele que se adapte e seja útil, que cumpra sua função na engrenagem social.
O elo que falta dessa lógica é a medicação. Reduzido a doença mental a um cérebro problemático, ela foi traduzida como um déficit químico, portanto basta descobrir um remédio específico para cada quadro. Recém começa a ser desvelada a verdadeira força da indústria farmacêutica nesse atual panorama, vendida como ciência de ponta, o envolvimento dos pesquisadores com tal indústria deixa muito a pensar o quanto se expressa a força de um lobby e onde começa mesmo a ciência. A medicação trouxe benefícios inestimáveis para todos, mas seus verdadeiros benefícios são superdimensionados. Aliás, se o ganho com as medicações fossem realmente revolucionários, viveríamos um momento de declínio dos quadros de sofrimento, quando estamos constatando é um aumento de todas patologias. Algo não anda bem nas nossas estratégias e no setor de armamentos, estamos perdendo a guerra.
Começaram sair livros e artigos que desafinam o consenso da psicopatologia atual. Destaco o livro recém lançado cuja leitura resumo nas linhas acima: O Livro Negro da Psicopatologia Contemporânea (Ed. Via Lettera, 2011) de Alfredo Jerusalinsky e Silvia Fendrik (orgs.) Nove autores brasileiros, nove argentinos, uma mexicana e uma francesa, trazem sua experiência com as categorias psiquiátricas. Entre outros, escrevem Maria Rita Kehl, Ricardo Goldenberg, e aqui, de Porto Alegre, contribuem Nilson Sibemberg e Ana Costa. O sofrimento humano dá muito que falar, mas nem sempre a minúcia descritiva e classificatória lança luz sobre um campo obscuro.
Publicado no ZH Cultura, 24.09.2011
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Prefácio de Os Infiltrados
Quem são os Infiltrados?
Um pouco por acaso, por tropeçar no assunto, e depois por vontade de escrever uma boa matéria sobre um lado obscuro do nosso passado recente, quatro jornalistas do jornal Zero Hora deram voz a personagens pouco conhecidos da nossa história. Eles entrevistaram agentes que trabalharam como informantes infiltrados nos movimentos sociais durante a ditadura militar. Através dessa reportagem, os infiltrados saíram de uma clandestinidade que não faz mais sentido, e nos dão suas razões para a opção que fizeram. Continue lendo…
Caixinha de surpresas ou urna de cinzas?
Resenha de dicionário de lugares comuns
O jornalista Humberto Werneck juntou durante anos os lugares comuns da nossa língua. Resultou no “O Pai dos Burros – Dicionário de lugares-comuns e frases feitas” (Editora Arquipélago, 2009), um livro imprescindível para quem escreve, está ali tudo que deve ser evitado.
Adivinhem o verbete com maior número de entradas?
Futebol, é claro. Veja abaixo:
A magia do futebol
Achei que já tinha visto tudo em futebol
Futebol é assim mesmo
Futebol é bola na rede
Futebol não tem lógica
Jogar o seu melhor futebol
Jogar um futebol burocrático
O futebol campeão do mundo
O futebol é uma paixão nacional
O futebol é o ópio do povo
O futebol é uma caixinha de surpresas
O futebol tem dessas coisas
O melhor futebol do mundo
Começamos esse blog para falar do esporte de outra maneira, com outras palavras. O “rude esporte bretão” parece ter seu dialeto próprio, suas expressões cansadas e suas máximas ainda mais desgastadas. O dever do escritor é renovar e arejar a linguagem. Conseguir vencer a preguiça conclusiva e inventar novas expressões. O leitor que nos diga se conseguimos trocar o para-choque do caminhão.
Falta ainda alguém escrever um manual da lógica própria ao futebol. Por exemplo: “o gol veio na hora certa”. Vocês já viram um gol vindo na hora errada? Um técnico pedir a anulação do gol que teria chegado em um momento errado? O capitão xingar o jogador que colocou para dentro quando não podia?
Tem muito mais: “se entrasse era gol” anuncia o locutor eufórico. Alguém soube dum gol sem entrar?
Uma das origens do besteirol no futebol é fácil de apontar: a televisão. O locutor de rádio é um artista, ele tenta recriar uma cena e uma emoção que o ouvinte não está vendo. Quando assistimos o jogo na TV é quase como estar no estádio. O futebol não precisa de legendas, tal qual um filme mudo todos o entendem. Ele é explícito, a narração na TV é inútil, é uma fala que já nasce vazia. Apenas ninguém tem a coragem de deixar esse espaço vazio. Ok, quem sabe, como nos filmes mudos, um pianista que faça de improviso um fundo musical que interprete a alma da partida. Ou então podiam apenas gritar gol ou amaldiçoar o juiz. Nada disso, e ainda chamam comentaristas para ajudar a preencher o que está transbordando, só pode resultar numa enchente de obviedades.
“O Pai dos Burros” é o cemitério do dicionário. Um cemitério lotado, já é o momento do clichê aderir à cremação.
Publicado no blog “Futebol é literatura” em 26.11.2009
Depressão: a face contemporânea do mal-estar na civilização
Resenha do livro de Maria Rita Kehl
Com esse título, na próxima segunda-feira, a psicanalista Maria Rita Kehl estará na cidade para falar no Fronteiras do Pensamento. Maria Rita é autora de muitos títulos, que se ocupam de conjugar a psicanálise com nosso tempo, desde a feminilidade, o laço fraterno, assim como arte, juventude e muito mais. Desta vez ela irá ao cerne de um de nossos grandes temas, centro de temores, preocupações: a depressão. Seu novo livro, O Tempo e o Cão – a atualidade das depressões é uma oportunidade de aprofundar-se no tema. A autora depreende do tema importantes considerações sobre a modalidade do mal-estar contemporâneo. Desta forma, ela compreende, mas também transcende o problema das depressões como um quadro psicopatológico.
Que falta nos faz a filosofia
Sobre o livro Filosofia em Comum de Marcia Tiburi
A minha geração (dos que hoje beiram os cinqüenta) pegou o desmonte do ensino no Brasil ou, a “Reforma”. Basicamente, retiraram do currículo as humanas, ou as reduziram ao mínimo, e intensificaram as exatas. Precisávamos de engenheiros e técnicos para construir o “Brasil Gigante”.
A força das palavras de um pai
Resenha do livro O Conto do Amor de Contardo Calligaris
Contardo Calligaris estréia na ficção: lançou, pela Companhia das Letras, O Conto do Amor (128 páginas, R$34,00). Já estamos acostumados aos seus artigos semanais na Folha, onde consegue, em tão exíguo espaço, a proeza de fazer um pequeno ensaio. De qualquer assunto, sempre extrai um novo sentido, nos surpreende com uma ou duas voltas a mais no raciocínio que já temos.