A história do macaco
Sobre a paranóia nossa de cada dia, essa que nos cega para a solidariedade e os bons encontros!
Um sujeito dirige de madrugada por uma estrada erma quando descobre que está com o pneu furado. Pior, está sem macaco. Desesperado, enxerga uma luz ao longe. Deve ser uma casa, pode pedir ajuda. Começa a caminhada rumo à salvação, quando lhe ocorre que o julgarão inconveniente por acordá-los àquela hora, sendo um estranho e pedindo um macaco. Talvez atirem pensando ser um ladrão. Pode estar interrompendo um casal que namora e irão odiá-lo. Segue seu rumo imaginando cenários terríveis e que irão lhe negar o pedido, mas mesmo assim bate na porta. Quando ela se abre, nosso viajante já está furioso com os moradores e convicto que irão maltratá-lo. A primeira coisa que ele diz é: “Quer saber de uma coisa, pegue esse seu macaco e enfia…..!”.
Esta é uma anedota antiga, mas muito bem nos ilustra. Quantas vezes ocorre estarmos precisando de uma mão amiga e supomos antecipadamente que nos será negada. Ao invés de pedir ajuda, agredimos a quem nos quer bem, mal interpretamos seus atos, convictos de que traduzem rejeição ou má vontade.
Quando infelizes, olhamos tudo e todos com as lentes do mau humor e do ressentimento. Alguém deve ser culpado pela tristeza que sentimos. Sem perceber, odiamos todo mundo. Por que, então, não haveriam eles de sentir o mesmo em relação a nós? Melhor ainda, preferimos pensar que são os outros que odeiam. Aos próprios olhos, somos anjos que só querem o bem do próximo. Atribuir seus sentimentos ao outro é uma “projeção” – sentir que vem de fora o que está dentro – é assim que os psicanalistas chamam esse mecanismo. Considerar-se alvo de intenções ruins por parte dos outros não deixa de ser uma paranóia, forma da loucura que se serve fartamente da projeção.
Paranóico é o sujeito que acha que o mundo conspira contra ele. Nessa visão delirante, tudo gira em torno de si. Ele possui a certeza de ser o umbigo do universo. Alguém tão importante só pode ser a reencarnação de Jesus, John Lennon, Joana D’Arc ou Napoleão, conforme o gosto do freguês e o momento histórico. Dizemos que ele tem delírio de perseguição, pois de fato trata-se de alguém sempre alerta, que precisa ficar esperto para não sucumbir.
Mais triste é dar-se conta da paranóia cotidiana entre aqueles ditos normais. Na maior parte do tempo os outros não querem nosso mal, tampouco nosso bem, simplesmente estão ocupados com outra coisa que não nossa digníssima pessoa. Os outros são como os moradores sonolentos daquela casa, até abrir a porta e escutar o que queremos, não estão nem aí para nós. Mas, uma vez informados dos nossos pedidos, necessidades e queixas, em geral há em volta gente boa com quem contar. Teremos o macaco de que precisamos e, não duvido, ajuda para trocar o pneu.
E qdo pedimos socorro e ele ñ vem de lado nenhum?! É preferível afastar-se dos ditos “amigos” aos quais pediste socorro, mas, sem explicação, ignoram o teu problema e nem sequer perguntam se vc encontrou uma solução?! Talvez eles nunca tenham sido AMIGOS…