Ainda há tempo, mas…

Sobre consciência ecológica e pulsão de morte

O alerta da ONU sobre o clima vem dizer o que já suspeitávamos. Nem mesmo furacões, maremotos, secas, enxurradas, derretimento das geleiras, além do incômodo do clima imprevisível têm sido suficientes para nos alertar da iminência duma catástrofe planetária. Continuamos vivendo como se tudo isso não nos dissesse respeito, como se fosse natural e inevitável. É hora de se perguntar: por que somos tão passivos frente a um clima de destruição? Infelizmente tenho uma sugestão de resposta.

Vamos ao plano pessoal. Freqüentemente os doentes fazem o contrário do que o médico lhes recomendou: diabéticos parecem dispostos a pagar com os olhos ou uma perna o preço da gula; fumantes ficam indiferentes aos avisos escabrosos da carteira; cardíacos, hipertensos e portadores de índices preocupantes em seu sangue continuam mandando ver no álcool e nas carnes gordas. Enquanto os jovens, seguindo o exemplo, continuam morrendo no trânsito durante as madrugadas etílicas. Poderia dizer-se que são casos de vício, de imediatismo, onde se pensa no prazer sem visão do futuro. Correto, mas é mais que isso. É duro de encarar que nem sempre apostamos na vida. O jogo de tourear a morte e a possibilidade da autodestruição nos fascinam.

Existe uma pulsão de morte que convive e rivaliza com a da vida. Essa foi a triste resposta que Freud deu a Einstein, em 1932 quando este lhe pediu uma explicação ao porquê da guerra. A Europa vivera com a Primeira Guerra uma experiência de horror que pareceria ter lhe ensinado para sempre o valor da vida. Mas certos intelectuais já cheiravam a pólvora que havia no ar, pena que estavam certos, pois a geração seguinte conseguiu uma barbárie ainda pior. Como foi possível aprender tão pouco? Mais do que desenvolver a sabedoria de viver, o homem mostrou-se fascinado por controlar a morte, e matar a si e aos outros é uma forma de fazê-lo. Se a cada dia que passa encaminhamo-nos para o fim, porque então não invocá-lo?

De qualquer forma vejo uma coisa boa no horizonte, faz tempo que a humanidade não tem uma causa comum que a motive e unifique. Temos que fazer filmes de invasões alienígenas para nos sentirmos unidos em torno da sobrevivência da espécie. Pois bem a luta pela preservação do meio ambiente pode ser essa bandeira comum.

Há muitos piratas sanguinários ganhando tesouros com a destruição do planeta e descortina-se uma batalha que pode satisfazer até aos mais aventureiros. Mas não é preciso ir tão longe, como devem fazer doentes, podemos começar a cuidar da doença crônica da nossa sociedade de consumo. Separando nosso lixo, escolhendo os produtos que consumimos. O maior risco provém da lentidão da nossa capacidade de reação. Ela se origina na crença de que o problema está sendo gerado e deve ser resolvido “pelos grandes” que governam e poluem. Balela infantilóide! Está na hora de descobrir que os adultos deste planeta somos nós mesmos! Como a história já nos ensinou, quando se trata de destruir, costumamos aprender pouco com a experiência.

dianacorso@portoweb.com.br

07/02/07 |
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