Banheiro feminino
Banheiros públicos, onde elas se encontram, fazem fila e passam apertos…
Há um território em que fica muito evidente a diferença entre homens e mulheres: o banheiro. Num congresso recente ocorreu o de sempre: a longa fila de mulheres saía para fora do banheiro, de tal modo que o Cofee Break não passa de Pipi Break. Enquanto isso, o recinto equivalente masculino estava às moscas e os rapazes, livres das suas premências urinárias, puderam descansar e lanchar.
Há um tempo adoto uma prática “terrorista”, que conta com a conivência de um homem solidário que age como batedor. Ele entra, verifica se há algum usuário em situação constrangedora e, quando o território fica liberado, dá a deixa para que possamos invadir o banheiro masculino. Na sequência é colocada uma sentinela na porta e as mulheres desafogam sua fila, numa espécie de alvoroço transgressivo. Já existem locais, evidentemente em ambientes mais civilizados, em que não há separação entre o Masculino e Feminino. Pelo jeito frequentar os mesmos banheiros não redunda necessariamente em assédios sexuais.
Mulheres vão ao banheiro com mais assiduidade. Isso se deve a razões fisiológicas, como os ciclos hormonais que nos transformam regularmente em esponjas que edemaciam e esvaziam. Também o fazemos em bando: quando precisamos confidenciar, a deixa é “vou ao banheiro”, ao que a(s) amiga(s) acrescenta(m), “vou contigo”.
A logística banheirística feminina é mais complexa. É necessário literalmente desmontar-se, removendo meias (que costumam romper-se), suspender saias e vestidos, tirar calças e roupa interior. Além disso, temos que sentar, ou, pior, não sentar. Desafiaria muitos homens a urinar semi-agachados, com as roupas arriadas, cuidando para que nem o corpo, nem as vestes que seguramos com as mãos, toquem na sujeira do chão ou da privada. Devia ser uma modalidade olímpica. Há o necessário papel higiênico, que eles raramente usam, o qual deve ser depositado num cesto nojento cujo conteúdo ameaça desabar sobre a equilibrista. Sem contar com os trâmites da menstruação, que tornam tudo isso muito mais demorado e complicado. Por último, resta nossa eterna insegurança que nos leva a consultar o espelho e retocar a maquiagem como se nosso rosto tivesse fugido enquanto não o estávamos vendo.
A pergunta é: por que os arquitetos e engenheiros, especialmente as profissionais mulheres, continuam planejando banheiros simétricos. Queremos igualdade sim, de salários e oportunidades, mas, relativo aos banheiros, a merecida consideração reside em levar em conta as diferenças, construindo banheiros maiores para as mulheres. Sinceramente, quando fico numa fila do banheiro feminino sinto como se, de alguma forma, fossemos punidas por querer ter uma vida pública. Pediram igualdade? Então tomem!
Diana, muito bem descrito, com detalhes naturalistas, gostei. Este tema da “segregação urinária” e do uso do toilet rende várias teses sociológicas, e até antropológicas, assunto sério. Inclusive incidindo sobre o uso do espaço público e hábitos de cidadania. Bela crônica! Grande abraço, Elaine