B@bel

Sobre uma campanha na internet em tempos de Copa

A internet é nova Torre de Babel, onde todos querem a comunicação universal e acabam dando espaço para mal-entendidos de proporções globais. É um meio onde a informação avança sem tempo para certificar-se de sua procedência, nem refletir sobre seu caráter.    

Uma divertida confusão anda circulando ao redor do mundo: estranhados com a difusão de uma frase – “cala a boca Galvão” – divulgada no Twitter e associada à presença dos brasileiros na Copa do Mundo, vários estrangeiros se interessaram em saber o que ela significa. Foram erroneamente informados por um vídeo postado no youtube que “cala a boca” quer dizer “save” e “galvão” é um pássaro raro em vias de extinção. O vídeo, que já teve 760 mil acessos, explica, em claro inglês britânico, que podemos participar da campanha de salvamento dos “galvão birds” escrevendo no Twitter a simples mensagem “cala a boca Galvao”. Assegura que para cada vez que essa frase fosse enviada, estaria se viabilizando a doação de uma pequena quantia em dólares destinada à campanha, embora não esclareça quem vai pagar por isso. Uma pegadinha brasileira que tira proveito tanto da nossa imagem como um país primitivo, de pássaros exóticos e uma grande floresta em perigo, tanto quanto da urgência de milhares de pessoas de fazer o bem de forma rápida e barata.

Dizem que Galvão Bueno despertou tanta animosidade graças à insistente repetição de clichês com que narra os jogos, nenhuma de suas metáforas é nova. Ele coloca a energia do futebol em ritmo de partida de dominó de clínica geriátrica. Foi essa geração da internet que, por se sentir subestimada, mandou um recado de que não precisa de um animador de bingo para seus momentos de lazer.

Rotina é bom, como um conjunto de práticas que nos assegura uma continuidade na vida, elas se repetem com a mesma certeza que temos de que ao voltar para casa encontraremos nossa cama no mesmo lugar. Mas nem por isso vamos passar a vida deitados nela, levantamos todo dia incertos de que ganharemos a partida e essa é a motivação, o desafio. As regras dos esportes são pura rotina, movimentos calculados, regrados, mas é no imprevisível que nos prendemos. É o contraponto do previsível com o surpreendente que garante o encanto, tanto no futebol como na vida. Galvão pelo jeito não entendeu isso.

Como todo equívoco, a pegadinha brasileira diz uma verdade, e essa mensagem é que somos mais do que carnaval e uma floresta em extinção: nosso país também exporta humor e brincadeira. Independente do resultado da copa, o Brasil já ganhou uns pontos.

30/06/10 |
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