Campeões

Sobre atletas portadores de necessidades especiais

Quando a vida nos atinge é normal que fiquemos tristes, desanimados e indignados. Um olhar de desaprovação, uma palavra de desalento, dor de cabeça, cólicas, o namorado que não ligou, uma ressaca ou um simples resfriado são suficientes para nos abater. Agora pense como seria conviver diariamente com paralisias que impedem braços e pernas de responder ao comando central, com membros amputados, com deficiências sensoriais. Haja bom humor para seguir adiante!

Os jogos Parapan-americanos, recentemente ocorridos no Rio, são uma demonstração dessa capacidade de vencer a adversidade. Esportistas cadeirantes e portadores de vários tipos de deficiências revelam-se tão persistentes quanto seus colegas do outro Pan. Apreciamos no esporte o resultado da perseverança, da disciplina férrea e a capacidade de suportar a dor. Ninguém melhor para entender os suplícios de conviver com uma deficiência do que um atleta. Para superar barreiras, transcender limites, é preciso pedir mais do corpo do que ele está disposto a dar, conviver com o sofrimento físico, a frustração e o medo do fracasso. Frente aos atletas profissionais, as pessoas comuns é que parecem deficientes.

Admiro nos esportistas que são portadores de necessidades especiais particularmente um dom, que reside mais no espírito mais do que no corpo. Quer sua deficiência tenha sido causada por acidente, doença, quer seja de origem congênita, em algum momento se perguntarão: por que eu? O que foi que eu fiz para merecer isto? Por que tudo para mim tem que ser mais difícil? Reagir com ressentimento, odiar a si mesmo e aos outros, repartir culpas e se deprimir é uma grande tentação. Fazemos isso por muito menos, por que não o faríamos se a vida nos privasse do uso pleno do corpo? Para disputar uma partida de tênis ou basquete para cadeirantes, de vôlei sentado, correr uma maratona sem enxergar o caminho, além da condição física é preciso ter a possibilidade psíquica de elaborar tantas privações.  

Os atletas convencionais possuem um ganho secundário além dos troféus, que é o fato de que sua imagem corresponde aos padrões de beleza tradicionais. Corpos musculosos, “trabalhados”, estão em alta. Não há propaganda sem um corpo sarado sorridente associado. Os esportistas não fazem feio em ensaios sensuais em revistas. Já os atletas cadeirantes ou portadores de necessidades especiais sabem que sua beleza será também especial, que seus corpos fogem à regra. Nosso olhar ainda se impacta por qualquer alteração na imagem corporal, por onde passarem vão precipitar reações curiosas.

Iniciativas de inclusão como esta são fundamentais até para aqueles cujo corpo funciona normalmente, obrigam a reciclar conceitos sobre corpo e mente. Os atletas do Parapan num ponto são superdotados: na capacidade de combater a depressão. Por isso, se quiserem pesquisar métodos antidepressivos tenho uma sugestão: melhor do que administrar drogas teste em grupos de humanos ou animais, seria estudar a cabeça dessa gente, esses campeões da superação. Para eles, todas minhas medalhas!

28/08/07 |
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