Com quantos paus se faz um homem?

Sobre a construção da imagem masculina pelas mulheres

Alta e jovem, a mãe caminhava de mãos dadas com seu filho, um daqueles pós-bebês que já têm um ar másculo, menos de metro de altura, presumíveis três anos, mochilinha nas costas. Ajeitei o passo para ouvir a conversa.

Inclinando-se para falar, ela conduzia aquele interrogatório a que as mães submetem filhos na volta da escola: o que comeu, o que aconteceu. Escuto que ele tinha apanhado de um rival, talvez pela posse dum brinquedo, sabe-se lá… Coube a ela fazer uma preleção sobre revidar o golpe, que não precisa ficar batendo nos outros, mas tem que impor respeito! Lá estava ela, ajudando a construir seu pequeno homem, que se não bater apanha, tem que ser corajoso, forte e jamais chorar.         

Independente de quantas de nós tenhamos encontrado caras legais para amar ou ter como amigos, ainda temos uma estreita compreensão do que deva ser um homem. É fácil repetir a cantilena de que eles são todos iguais, que só pegam mulheres para se exibirem entre si, que se acham grande coisa só porque nasceram com pênis, bibelôs das mamães, que são uns infantis, gulosos por sexo e prestigio, materialistas, que colecionam carros e objetos como figurinhas, bagunceiros e covardes frente à mínima experiência de dor.

Bem, é o mesmo que nos definir como dengosas, choronas, contumazes caçadoras de reprodutores que aplaquem nosso furor uterino, desejosas de um marido que mande na gente pelo resto da vida. Clichês de uma identidade sexual. Por sorte, quanto às mulheres, as conquistas feministas têm flexibilizado essa imagem. Quanto aos homens, não há tréguas.

Eles não nascem homens, tornam-se. E há muito trabalho feminino nessa tarefa, as mães preocupam-se desde cedo com sua performance viril. Elas sabem que eles crescerão num clima de matar ou morrer na guerra de prestígio. Ser mulher é enfrentar a desvalorização social, porém conseguir um lugar ao sol na selva dos machos também é uma tarefa inglória.

Como sempre suspeitamos, as bravatas servem para anestesiar a insegurança deles, pois as conquistas são sempre insuficientes e instáveis. Se entre nós sabemos ser sarcásticas e destrutivas nas sutilezas da língua, entre eles a agressividade é um jogo aberto, qualquer vacilo será punido sem dó. Como também supúnhamos, somos mesmo assustadoras. Nossa satisfação sexual vale pontos na gincana deles, além de que nossas críticas, reclamações e exigências realmente os atingem. Quanto mais alto o ideal, maior é a insegurança. Ser homem é entrar para a corrida da vida com sapatos de ferro. Protege, mas é uma identidade pesada de se carregar.       

Quanto a nós, que reclamamos de suas grosserias, essa mania de identificar um gênero com seus clichês nos impede de ver o quanto eles também querem libertar-se dessa carga. Mas será que estamos dispostas a perder nossos machinhos? Como ficamos sem os filhos e maridos que, como galos de rinha, se enfrentam por nós nos ringues da vida? Façam suas apostas…

01/10/07 |
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