Contos do amor insuficiente

Sobre o livro O silêncio dos Amantes de Lya Luft

Amar é… incomunicabilidade. O silêncio dos Amantes, o mais recente livro de Lya Luft (Ed. Record), é um passeio, por vezes triste, ora fantástico, mas sempre emocionado pelas limitações do amor. Nos contos de Lya tem gente que até ama, mas, mesmo assim, se suicida. Há as mães órfãs de seus filhos tragicamente perdidos. Há os filhos que percebem o amor destrutivo dos seus pais, alcoolistas, violentos, maus.

Onipresente nessas histórias de relações amorosas (entre familiares, amantes) está ela: a morte, só a ela cabe o ponto final. Só a morte realmente nos separa. Depois dela ficamos falando sozinhos, as perguntas ficam definitivamente sem resposta, a culpa domina a cena.

Em poucas coisas depositamos tanta fé quanto no amor, todo mundo quer ter um (ou mais). Aos descontentes com a vida, de todas as idades e sexos, ele parece o remédio universal, o tempero essencial, a sutura perfeita para o buraco que carregamos. Quando obtido, parece um conforto que sempre esteve em nossa vida, ficar sem ele é como aprender a viver sem luz elétrica ou água encanada, por isso mesmo descuidamos dele. Facilmente esquecemos que o outro se esvai em pensamentos que nos escapam, em dimensões que desconhecemos.

Do amor só queremos a certeza de sua presença constante. Mas uma relação não precisa ser atributo adquirido, laço passivo, letra morta, vitalícia submissão a uma rotina de desencontros ou maus tratos. Ela pode ser um diálogo ativo entre diferentes, uma busca de entendimento, seja ele com palavras, gestos ou olhares. É preciso aceitar que todo vínculo contém a estranheza do outro, a quem nunca chegaremos a compreender, que jamais se entrega totalmente, que possui mistérios que nos precedem e ultrapassam nossa importância.

Um conto em particular – O que a gente não disse – assim como o conto final, que dá título ao volume, revelam as duas faces desse desencontro incontornável. Ali estão descritas duas das faces do silêncio cúmplice dos amantes. Na face triste de se ver, está refletida a triste rotina dos que se resumiram ao desempenho das obviedades da vida, os filhos, o trabalho, as contas, o beijo ao chegar e partir. Noutra face, a esperançosa, tampouco as palavras são suficientes, mas há um silêncio cúmplice, feito da compreensão que amor não é sinônimo de felicidade, nem de completude. Essa é a lição de Lya, triste, mas sábia: a dor faz parte.

11/06/08 |
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