Desequilibrados
Sobre o filme Avatar
Sigoruney Weaver voltou ao espaço, agora como uma cientista interplanetária, mas desta vez o Alien somos nós. O que já era sugerido nas experiências anteriores do diretor James Cameron agora é explícito: os homens, com sua voracidade capitalista, perderam totalmente seus resguardos morais e, principalmente, o equilíbrio. Avatar, o filme, com ou sem 3D, é uma experiência estética que não desaponta a quem gosta de mundo mágicos.
Para viabilizar a extração de um minério precioso para os terráqueos no planeta Pandora, organizou-se uma pesquisa na qual alguns humanos conectavam-se a seres similares ao povo local, controlados mentalmente: os avatares. Necessitavam conhecer melhor aquela civilização que resistia a qualquer negociação: não havia nada que pudesse ser ofertado a eles que estivessem dispostos a trocar por um pedaço da sua terra. Os cientistas descobriram que aqueles seres azuis, com rabo e feições felinas, têm tesouros que sintetizam nossos sonhos românticos, e que supomos que perdemos: a conexão com o meio ambiente e o grande coração do bom selvagem.
O herói do filme é gêmeo do que originalmente treinava para conduzir um avatar, mas morreu. Ao contrário do irmão cientista, ele é um soldado, mas está paralítico. No corpo de seu avatar, pode executar as tarefas que fazem parte da formação de um guerreiro Na’vi, numa mobilidade que contrasta com suas pernas inúteis da vida real: saltar entre as árvores, caçar, domar e voar em dragões alados. Como ele, estamos paralisados pela tamanha confusão que fizemos, criando cidades monstruosamente artificiais, sofrendo castigos climáticos crescentes, enquanto nossa única atitude não passa de separar um pouco de lixo. Desse jeito, parece melhor mesmo abandonar esta carcaça inútil que é nossa civilização e começar tudo de novo, como um povo caçador-coletor, capaz de uma cultura coletiva não competitiva.
O novo campeão de bilheteria e de tecnologia do entretenimento é um grito ecológico. Nossos sonhos coletivos das telas já não se bastam com máquinas, eles começam a ser mais orgânicos, amazônicos. Isso pode muito bem apontar uma guinada: no futuro deixaremos de ser colonizadores ensandecidos de nosso planeta e buscaremos algum equilíbrio entre nós e com o meio ambiente. Ou numa leitura mais pessimista: a possibilidade de uma relação não selvagem entre os humanos e com seu mundo mudou-se definitivamente para Pandora, um planeta onírico. Na vida real, restaremos aqui, paralíticos, beligerantes e obtusos.