Emoções de uma escolar
Os dramas de colégio revividos nas redes sociais.
Você tem alguma ideia do quanto sofre uma garota em idade escolar? Lembro com indesejável nitidez dos dramas em torno de quem senta com quem, da mágoa pelas vezes em que não fui escolhida ou aceita como companhia para merendar. Ao longo do primeiro grau partilhei a solidariedade vexada que se estabelece entre as impopulares.
Algumas vezes tentei ser a terceira incluída em duplas de amigas que eu achava o máximo. Aos meus olhos, elas eram altas, cheirosas, bem vestidas, com cabelos perfeitos, letras bonitas e famílias bacanas. Eu, ser inferior, era a que ficava de fora e tornava o vínculo delas mais coeso. Faziam de mim um io-iô e eu topava, em nome das migalhas de convívio. Cada turma de escola tinha um pequeno núcleo de criaturas idealizadas em contrapartida ao grande número das que se consideravam párias.
Revejo esses dramas cada vez que encontro adultos sentindo-se inferiorizados por causa do que aparece nas redes sociais. Nelas, compartilhamos partes editadas da nossa vida e a ênfase são os signos de felicidade e sucesso. Entre os hits estão o estado civil, pets, família, comemorações e viagens.
Ah as viagens! Você já reparou que só nós parecemos estar trabalhando, enquanto os outros tomam uma taça de vinho com vista para uma encantadora praça europeia? Os que não estão lá, fazem trilhas incríveis, nadam com golfinhos ou brindam num paraíso caribenho. Há também a turma que passa temporadas no exterior, para relaxar, estudar ou criar, estes para mim os mais invejados. E nós num nada charmoso engarrafamento, com um café de garrafa térmica de consolo.
Todos se divertem, festejam, casam, formam-se, batizam, debutam. Nas enfadonhas fotos de grupos, vemos gente vestida de forma incômoda, com seus melhores sorrisos estudados. Os casais estão apaixonados, a família unida, netos e avós se entendem, há muitos sobrinhos, afilhados, os filhos são fofos, os cachorros são adequados, os gatos simpáticos. Os protagonistas mais apreciados em postagens edulcoradas são os filhotes, humanos ou animais. Não quer dizer que eu deixe de colocar tudo isso: filhas, festas, viagens. Cada um a seu tempo, Bilbo, o cachorro babão, e a arisca gatinha Cora têm sido vedetes da parte pública da minha vida.
Independente, porém, do quanto se viaje, namore e possua seres queridos, estaremos em desvantagem. Os populares são uma fantasia que cultivamos, curtimos e invejamos, como na escola fundamental. A maioria de nós se aglutina na solidariedade vexada dos excluídos. Pensamos que há um lugar e tempo, que não são os nossos, onde estão aqueles que são felizes de verdade. Parece um desperdício tanta tecnologia a serviço das emoções típicas de uma colegial. A conexão virtual não criou essa gente insegura, apenas a revelou.
Que tal abrir mão da ingenuidade? A vida dos outros não é perfeita, seus cabelos não são ajeitados e todas as famílias são malucas, peculiares e bacanas a seu modo. É fim de ano, sejamos sinceros: os populares não se sentem assim, não são mais felizes e eles também estão de olho na grama do vizinho.