Encontros e desencontros segundo Claudia Tajes
Sobre o livro Dores Amores e Assemelhados
O amor deveria ser a celebração da união, mas o encontro é exceção em uma regra de solidões e mal-entendidos. Dores, amores & assemelhados, romance de Claudia Tajes, faz parte de série recente de tragicomédias amorosas brasileiras (no cinema Pequeno Dicionário Amoroso, na TV Os Normais), onde o amor e o sexo se despem dos véus da idealização e os mortais aprendem a conviver com o infalível ridículo.
Neste livro, o mesmo episódio é contado paralelamente por Júlia e Jonas, que parecem fadados a se atravessar um na vida amorosa do outro. No relato sob a ótica masculina e feminina, esperaríamos encontrar basicamente diferenças, não faltam vozes para dizer que os homens são de Marte e as mulheres de Vênus, mas Cláudia os situa no mesmo planeta.
Libertos das identidades rígidas do machão, a submissa, a mãe, a prostituta, a solteirona, o don Juan e outras poucas alternativas que havia,os modernos podem ser um pouco de tudo, assumir vários papéis, inclusive os outrora reservados ao sexo oposto.
Para um destino tão aberto, a idealização do amor e o culto ao corpo oferecem algum antídoto.“Às vezes parece que um namorado, por si só, poderia resolver todos os seus problemas. E você se dedica a procurar este namorado, muito mais que a resolver os seus problemas”, diz a personagem Júlia, “sempre preferi os males físicos aos espirituais”, pondera Jonas. Em poucas palavras os dois resumem as quimeras a que nos dedicamos, Júlia fala da incapacidade de estar só, da angústia abissal que a atira para a rua em busca de qualquer um onde afogar a incógnita que é conviver consigo mesmo. Jonas enuncia a colocação do corpo no lugar da alma, o corpo pode ser moldado e incrementado, com uma plasticidade que a alma não tem, não há como lipoaspirar, marombar a alma, pode-se no máximo anestesiá-la com remédios legais e ilegais.
Sumamente modernos, os personagens do livro de Claudia são mais “tipos” do que atormentadas criaturas. Mas seus tipos permitem que nós, os leitores, fiquemos menos estereotipados.