Família maionese

Sobre famílias constituídas por casais gays

Há um comercial de maionese Heinz da TV inglesa no qual um homem prepara algo na cozinha, quando se aproxima um garotinho pedindo algo para a mãe, o homem vira-se, a pergunta era para ele. Na seqüência, chega uma menininha que também o chama de mãe e recebe dele um sanduíche para a escola, como o irmão. Por último, um homem de terno e pasta, despede-se com um “até a noite amor” e escuta, “você não está esquecendo alguma coisa?”, eles trocam um selinho e o primeiro arremata com um “eu te amo” (veja no: http://www.youtube.com/watch?v=Xl0bkv0jCCM).Você já viu esse comercial muitas vezes, só que costuma ser de margarina e a mãe é uma mulher. Das propagandas de TV, essa é do tipo mais tradicional, daquelas que fazem sentir-se um peixe fora d’água a todos aqueles, solteiros, separados, viúvos, gays, que não têm essa conformação familiar clássica. A “família margarina” parece ser a coisa certa e todo o resto fica como marginal.

Essa propaganda foi tirada do ar devido a protestos do público, a razão alegada era que o beijo homossexual era ofensivo às crianças. Não creio que o problema seja esse, acho que o comercial todo é uma afronta a esse sistema de incluídos e excluídos do clichê familiar. Também seria estranho se a criança que se dirige à mãe fosse branca e a mãe negra, por exemplo. Só que neste caso ninguém se autorizaria a dizer nada, porque o preconceito racial, assim como o relativo à adoção, não são confessáveis. O selinho não é uma afronta, é o amor entre pessoas do mesmo sexo que ainda é considerado ofensivo, é a colocação de um homem no papel materno que confunde as idéias do público.   

É duro saber que o dom para ser pai ou mãe não vem junto no acervo biológico recebido, um homem pode ser ótima mãe e uma mulher uma catástrofe no papel. Além disso, não está garantido que alguém do mesmo sexo nunca nos abalará. O que fazer com o homossexualismo latente que todo mundo têm e se manifesta através de ciúmes obsessivos? A propaganda foi censurada porque deixou o público confuso.

Hoje, as relações estão menos estáveis, mas ao invés de abandonar a conformação tradicional as pessoas insistem nela, casam-se muitas vezes e constituem não uma, mas várias famílias que se sucedem e superpõe. Os homossexuais oficializam suas uniões, do jeito que a lei local permite, e formam famílias. A “família margarina” não é uma reserva de mercado dos heterossexuais, que mantém uma relação até que a morte os separe, criando seus filhos biológicos. Queira ou não, um dia você vai ter que se acostumar…

09/07/08 |
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