Filhinhos da mãe
Há uma forma de ser mulher que está em declínio: a da mulher que materna seu homem e realça com sua dependência o poder dele. Os viúvos dessa feminilidade em extinção estão ficando desamparados e violentos.
Os cariocas estão correndo o risco de eleger como prefeito um homem que repetidamente espancou sua esposa. Em sua defesa, o candidato a candidato perguntou: “quem não tem uma briga dentro de casa? Quem não tem um descontrole?” De fato, tampouco conheço casais que jamais tenham discutido, mas palavras e lágrimas costumam dar conta do recado.
Muitos legisladores, maridos e namorados estão mostrando-se irritados e inseguros com a desobediência e as exigências das mulheres. Amantes ciumentos espancam e até matam aquelas que, em seu imaginário, só poderiam estar interessadas em outro homem. O que não ocorre a esses senhores destemperados é que elas possam querer tantas outras coisas que independem da presença masculina. Podem desejar a dignidade que eles lhe negam, um clima agradável no lar, a liberdade de não ter filhos, enfim, coisas para as quais elas se bastam. Menos habituadas ao prestígio, criadas para ser mais cuidadoras que cuidadas, as mulheres estão melhor preparadas para a jornada solitária.
Há uma cruzada em defesa de uma feminilidade que está em declínio. É a que corresponde à ideia da que elas existem para funcionar como um espelho que reflete a imagem do homem duplicada, agigantada pelo olhar feminino de admiração. Aliás, essa metáfora é de autoria da atualmente difamada Simone de Beauvoir. Como poderão eles ser grandes homens, sem uma grande mulher por trás?
Curioso, porque mulher grande mesmo é a mamãe: aquela giganta que faz seu menininho sentir-se o maior tesouro que a vida lhe deu. As esposas submissas são sua forma de sobreviver na vida dos homens adultos. O patriarca falido encontrou seu último reino nos braços da uma companheira que é misto de mãe protetora com criatura dependente. A extinção dessas tristes personagens, um marido ao modo menino mimado e a esposa que é sua sombra protetora, seria uma questão de tempo se não esbarrasse na resistência das próprias mulheres.
Muitas continuam submetendo-se, ou pior, acobertando maridos violentos, por causa da superproteção, que é uma fraqueza tipicamente materna. Alegam que os “coitados” estão numa fase ruim, culpam-se por tê-los irritado. Onipotentemente acreditam que vão domar sua fúria.
Há mulheres na vida dos legisladores que impõe recuos às liberdades femininas conquistadas. Qual o papel delas na tolerância com a violência que as fere e extermina? Esses homens têm mães, esposas, filhas, netas, sobrinhas, colegas, amigas e eleitoras. O primeiro machismo a ser vencido é o das próprias mulheres. São muitas as que ainda reconhecem no lugar da mãe a essência da feminilidade e na construção dos poderes do seu menino sua máxima realização. Seus homens só se comportarão como adultos no dia do ocaso da misoginia feminina.
Que texto maravilhoso, Diana Corso!
Pretendo compartilhá-lo em meu perfil do face, e que ele sirva de estímulo as mulheres que propagam esse comportamento que incita atitudes machistas e desrespeitosas a nosso cérebro.
Abraço e siga firme sempre, ótimos textos os seus!
gracias querida Dóris! nosotras podemos! Abraços
Grande texto, Diana Corso. Compartilhando agora mesmo este texto incrível e necessário. Espero que muitas mulheres leiam. Grande abraço.