Frida Kahlo é pop
É pop sobre a pintora Frida, por ocasião do filme homônimo
Esta pintora mexicana, cuja biografia é narrada num recente filme estrelado por Salma Hayek, tem todos os motivos para ser objeto desta espécie de canonização artística. Aliás dizem que as mexicanas mais famosas e reverenciadas mundo afora, são Frida e a virgem de Guadalupe. Um terço de suas pinturas é constituído de auto-retratos, em sua forma geral elas parecem com pinturas votivas, coloridas e decoradas conforme a tradição do folclore mexicano. Ali estão os órgãos expostos e o corpo despedaçado desta mulher que teve poliomielite, sofreu um acidente gravíssimo aos 18, foi submetida a 32 cirurgias e sofreu vários abortos involuntários. Em suas pinturas também estão seus amores: seu marido, o muralista Diego Rivera, o revolucionário Leon Trotsky, as mulheres e seu país. Contrariando os clichês, que pudessem ver no ocasional homossexualismo e num travestismo brincalhão alguma dúvida a respeito da feminilidade de Frida, ela mostrou que nem todas que parecem femininas sabem sê-lo e vice versa.
Como em seus quadros, onde o interior e o exterior do corpo se confundem, Frida elabora seus traumas a céu aberto, seu privado é público. Filha de um fotógrafo, a quem era extremamente ligada, ela fez uma versão do trabalho do pai, mas muito peculiar: como se os retratos pudessem ser vistos “por dentro”. Assim ela foi se auto-retratando em diversos momentos de sua vida, expressando traumas ou paixões que não podia deixar de pintar até formar uma autobiografia pictórica. Sua imagem foi se tornando um ícone. Assim como a Monalisa tem a marca de seu sorriso enigmático, sempre reconheceremos Frida na mulher de grossas sobrancelhas unidas, roupagem tradicional, cabelos presos em trança sobre a cabeça e um rosto que olha firme para fora do quadro encarando com ousadia os que vêm olha-la. Ela celebrizou um personagem, como tantos hoje em dia, que se tornam figuras tão públicas a ponto de não existir uma separação entre sua arte e o personagem que encarnam para seu tempo. Desta forma, ela tem a companhia de Madonna, Michael Jackson e Andy Warhol, para citar alguns exemplos mais óbvios.
Porém a subjetividade de Frida não foi fabricada pela mídia, ela realmente teve uma vida peculiar e foi capaz de traduzi-la em pintura. É preciso ter cuidado no choro sobre os riscos e perversões da mídia, como se tudo que se populariza se banaliza, afinal ícones também podem ser inteligentes, está em cada um escolher os que vai celebrizar, entre as mutilações que deram a Frida os elementos para sua obra, ou as que fizeram de Michael Jackson um Frankenstein de corpo e alma.