Futuro do Pretérito

Pretérito sobre os filmes De Volta para o Futuro e O Exterminador do Futuro

A ficção científica é um exercício de futurologia, nisto o Exterminador do Futuro (agora na versão três) não foge à regra, mas nele a viagem é de volta. O presente que os personagens vivem na trama deste filme se apresenta como transcorrido no seu próprio passado. Na ficção raramente se viaja no tempo a passeio, via de regra o acesso a essa dimensão visa alterar alguma coisa. No passado pretenderá aprimorar seu destino (ou da humanidade, se a intenção for mais altruísta), se a jornada for para o futuro, será para colher os dados que orientem o caminho a seguir.             

Junto com o primeiro Exterminador surgiu De volta para o Futuro, no qual um jovem viaja para a época da adolescência dos pais e, tentando melhorar seu destino, quase anula as premissas de seu próprio nascimento, pois atrapalha a vida amorosa deles. No primeiro Exterminador, um homem viaja ao passado para defender aquela que se tornará a mãe do futuro salvador da humanidade, porém ele se apaixona por esta mulher e termina concebendo este salvador, tornando-se o pai daquele cujo nascimento viera para proteger. O roteiro do Exterminador cria uma cilada no tempo, no qual o passado é engendrado por aquele que veio do futuro para garantir seu curso.

De todos os ardis do destino, o mais difícil de suportar, é o acaso da concepção. É muito desagradável saber-se decorrente de um encontro sexual que poderia não ter ocorrido e qualquer alteração faria com que nascessem outros seres humanos em vez de nós.  Embora gratos pela sorte de existir, há outras decisões do destino que gostaríamos de ter negociado. Ainda bem que história de cada um é mutante e a memória é mais ficcional que factual, depende do ponto de vista do narrador. Os historiadores recorrem a documentos, fotografias, narrativas de protagonistas de uma época. Também dispomos de todos estes recursos, mas eles não passam de contas de um colar, que cada um vai inserir no fio da sua narrativa na ordem que lhe convier. A máquina do tempo das lembranças termina por engendrá-las mais do que visitá-las. O mesmo pai que se teve pode ser visto como despótico ou formador, fraco ou compreensivo, a mesma mãe pode ser sufocante ou protetora, eles são personagens em busca de um autor. Porém, mais do que nos fazer desconfiar do passado, isto nos permite ver que a história pessoal está sempre disponível para a criação de novas versões, de tal forma que novos destinos sejam determinados. P or isso os psicanalistas apostam em que não há mal que sempre dure.

03/09/00 |
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