Hetero & Homo

Sobre o filme Beijando Jessica Stein

Consideramos o amor o tempero da vida, a Meca do desejo, sendo o sexo seu companheiro infalível e sua melhor tradução. Às vezes, por sorte, a ficção abandona o óbvio e leva-nos a outras paragens. Beijando Jéssica Stein é um filme que passeia com inteligência sobre as delicadas questões do homo, do hetero e do amor e da amizade.

Jéssica e Helen possuem um currículo de desencontros amorosos. A perfeccionista Jéssica só percebe o lado ridículo de cada um de seus pretendentes. Parecendo enfeitiçada por um antifiltro do amor, fica solteira para desespero da mãe judia casamenteira. Helen tem uma movimentada vida erótica sem se envolver com ninguém e decide experimentar uma relação homossexual. Um anúncio nos classificados possibilita o encontro. Tentando constituir um casal, elas vivenciam a intimidade erótica e amorosa que não haviam permitido antes a nenhum parceiro. Como casal descobrem que não bastava serem mulheres para o entrosamento ser  perfeito.

Para as mulheres a amizade entre elas cumpre uma função de primeiro amor fora da família. Uma menina pode sofrer demais porque a amiga não sentou ao seu lado no ônibus, uma mulher pode chorar uma noite inteira porque outra lhe disse que ela está gorda. Mas na amizade delas, um terceiro é chamado à função de juiz: o outro sexo. Jéssica e Helen inauguram sua relação falando mal dos homens e mantém viva a presença do outro sexo. Sex and the City, Tudo para ficar com ele, são as ficções atuais que enfocam essa passagem do grupo de amigas para o amado. Já os homens têm no sexo o campo de batalha prioritário e sustentam sua amizade no relato das bravatas sexuais. Sua passagem é a de descobrir que há seres humanos dentro daqueles corpos de que falam.

O primeiro amor tende ao especular, escolhe-se o semelhante, a versão aprimorada de si mesmo. Jéssica e Helen apaixonam-se pelo que tem em comum, sentem-se finalmente compreendidas. Nos dias que correm, quando cada vez sabemos menos quem somos, e precisamos como nunca deste espelho é surpreendente que ainda existam heterossexuais. Talvez, como o filme indica, o jogo de posições é mais sofisticado que o clássico homensXmulheres. As mulheres precisam também deslizar do exercício sexual para o vínculo amoroso (outrora típico dos homens) e os homens também se colocam a necessidade de ser compreendidos (antes só das mulheres). Amar é aprender as variações entre o igual e o diferente.

04/09/02 |
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