Homem: modelo 007

Sobre James Bond

O último filme do agente secreto britânico 007 é não apenas uma relíquia do que de pior o mundo branco ocidental produziu em termos de intolerância e falta de diplomacia, é também um monumento às dificuldades de ser homem em uma cultura machista.

As exigências são poucas e básicas: esteja pronto 24 horas para um desempenho sexual inigualável com parceiras desconhecidas, o mesmo valendo para lutas de todo tipo. Possua um número de bugigangas maior e mais sofisticado que os outros homens (relógios, carros, armas) e seja mais perito que eles no uso destes objetos. Quanto à sua identidade, que de secreta não deve ter nada, a simples menção de seu nome deve causar frisson: “Bond, James Bond”.

O discurso feminista dos primeiros tempos acreditava nos acima citados privilégios, a crença era de que a vida se atiraria sob os pés dos que melhor se aproximassem do modelo macho-rico-branco. Por isso, muitas mulheres que firmaram posições importantes no mundo capitalista recente obedeceram a estes mesmos padrões machistas.

A dita superioridade masculina é um fardo que custa caro aos que tem que carregá-la, pois transar com todas as mulheres significa não repousar com nenhuma (em geral quando Bond pega no sono, acorda com alguma surpresa desagradável), lutar o tempo todo significa estar em guarda permanente, usar todos aqueles objetos significa jamais demitir seu engenheiro interior (ou alguém duvida que em algum momento tem que parar para ler o manual…). Confiar nos outros, jamais! Quanto às mulheres, para o descanso do guerreiro só resta a mãe, ou uma esposa que possa ser colocada nesse papel materno.

O mundo da guerra fria se derreteu e alguns de seus personagens começam a sucumbir à temperatura ambiente. A sociedade dos (e das)  modelos sarados e musculosos,  portando objetos sabidamente caros, dirigindo possantes camionetes ainda é pautada pelo “padrão Bond”. Mas em paralelo outras experiências são tentadas, abre-se alas para o herói sensível (vide o estilo Leonardo di Caprio em “Titanic”) , o homem que pode amadurecer. Porque no fim das contas, ficar dependente da mamãe colecionando carrinhos e trocando socos com os camaradas é coisa de menino. Não admira a queixa constante das mulheres sobre a imaturidade dos homens, eles foram treinados para isso.

22/01/03 |
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