Loira Burra

Sobre o preconceito com as loiras

Estamos na véspera do próximo e sempre festejado Dia Internacional da Mulher. Sempre me incomoda nesta ocasião pensar que a mulher mais desejável é também a mais desprezível: a loira burra. Essa gostosa estereotipada é um poderoso reduto de preconceito e discriminação. A loira burra não é sequer bem-vinda entre as próprias loiras, aliás nem a mais ingênua e supérflua das histéricas consegue ser simplória a este ponto. Mas a quem serve o cultivo desta caricatura feminina? Estamos somente diante dum novo e disfarçado alvo para o machismo enrustido?

A loira burra é depositária de preconceitos que cercam o próprio sexo. Desde os gregos, os fisicamente avantajados são considerados proporcionalmente privados de inteligência, como se houvesse uma contradição entre sexo e pensamento. Se os atrativos femininos encontram na loira sua melhor tradução, e são contraditórios com a inteligência, podemos concluir então que as mulheres mais desejáveis são necessariamente burras. Seguindo o raciocínio, vale a inversa, portanto a inteligência tornaria a mulher menos atraente.

A psicanálise descobriu que freqüentemente as coisas representam-se pelo seu contrário. Por exemplo, se insistimos muito que alguém é detestável, podemos suspeitar que essa pessoa no mínimo nos interessa muito. Por isso, tanta fama de burrice só pode nos levar a pensar no contrário: a supor que as mulheres gostosas provavelmente têm acesso a alguma sabedoria que nos falta. Seriam conhecedoras do segredo do gozo sexual e teriam as chaves que não falham em abrir as portas do desejo. Uma loira burra seria uma bela máquina, movida por um desejo sexual infalível.

É no sexo que a verdade mais escondida de cada um se revela. Ali se ocultam os restos de infância que não nos largam, as inadmissíveis fantasias bizarras que temos. Todo tipo de medo e fragilidade irrompe quando estamos nus, a mercê das pelancas, gordurinhas e suores. É disso que não queremos saber. Que bom seria se fosse mesmo um território simples como seus representantes ideais: as loiras burras. Mas ele é nele que se enroscam as neuroses e as maiores complicações de que um ser humano é capaz. O sexo no mundo das Barbies deve ser bem mais tranqüilo. Pena que ele não existe. Porém vale pelo menos perguntar, que culpa disso tem as mulheres? É algo que sabemos?

A propósito, a autora destas linhas é morena.

03/03/04 |
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