Mãelévola

Amai-vos umas às outras, esse é o novo feitiço da ficção infantil!

“Fujam da enlouquecida paixão, lembrai-vos como os homens vos têm por frágeis, frívolas, facilmente manejáveis e na caça amorosa estendem armadilhas para prender-vos em suas redes como animais selvagens.” Essas palavras de alerta foram escritas em 1405, por Christine de Pizán, na pré-história do feminismo.

A nova vítima dessa sedução é surpreendente: a própria Malévola, a terrível bruxa da história de Bela Adormecida, caiu nessa cilada, apaixonou-se e pediu a seu amado que “fosse suas asas”. Até agora ela era apenas uma figura poderosa e desagradável do reino mágico, responsável pela maldição de sono da princesa.

Os Estúdios Disney fizeram em 1959 uma versão desse conto que emprestou uma imagem definitiva para esta personagem, transformada numa atraente vilã, de aparência gótica e olhos irresistíveis. No recém lançado Malévola, um lindo filme, eles bancam uma virada na história clássica: agora a bruxa é soberana das fadas, reina em harmonia com a natureza, sem hierarquia nem autoritarismo. A descoberta do amor a fragiliza e, sem escutar o alerta de Pizán, encontra a destruição nos mesmos braços em que pretendia repousar. O ressentimento amoroso é o motivo da maldição, pois a princesa é a filha daquele que literalmente lhe cortou as asas.

Em Malévola os homens não prestam: são abjetos, beligerantes e traidores, quando bons são servis ou insignificantes. Pelo que vemos, a ficção infantil caiu aos pés dos encantos femininos. O grande desafio desta história é, como sempre, um encontro amoroso, mas esqueça o príncipe: amai-vos umas às outras, essa é a ideia. É a mesma inovação que começou comValente e segue com Frozen, neste caso entre duas irmãs.

A disputa entre as mulheres pelo amor do pai, assim como por ser escolhida a mais bela entre as mulheres, faz parte da tradição dos contos de fadas. A entrega, seu único destino, alimentou essa competição, tantas vezes desleal. De fato, para mães, assim como para os pais, é uma derrota fenecer enquanto o sucessor floresce. Mas há algo a legar e o orgulho dessa herança compensa pelas perdas. Sem valor social, às mulheres essa contrapartida até agora estava vedada.

Através da vilã, embelezada por Angelina Jolie, somos levados a supor que a maldição é o romantismo que enfraquece, corta-nos as asas e leva-nos à vilania. Livres dele, seríamos portadoras de uma visão de mundo mais justa e harmônica do que a que foi alimentada pelo machismo. Essa promessa é uma novidade nos novos contos de fadas. Neles as mulheres resgatam o apreço pelas antepassadas e umas pelas outras, o que ainda é um feitiço necessário.

2 Comentários
  1. MARILINDA permalink

    Assisti o filme com minha filha e a amiguinha.Saí do cinema com a sensação de ter gostado do filme mais que elas, e isso que elas amaram. A interpretação de Jolie, excelente! Mas, a mensagem do filme foi o que me chamou a atenção a questão do perdão, do desprendimento que no amor é implicado, a bruxa que na real é a fada. Amei!

  2. Carla permalink

    Também amei o filme. Indiquei a todos. A mensagem do verdadeiro amor foi linda! E a libertação de que no final é sempre necessário um príncipe encantado tbm foi espetacular1

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