Mamma son tanto felice
Sobre as tristezas normais da maternidade
Dia das mães, todo ano a gente faz tudo sempre igual. Passados os ritos comerciais e gastronômicos, de tudo resta um pouco. São coisas não ditas, afeto que não se deixa encerrar, presentes de grego. Entre os silêncios, pelo cordão umbilical que nunca se corta transitam inúmeros segredos femininos, coisas que mulheres não passam de mãe pra filha, que não contam nem umas às outras, que ginecologistas não alertam e pediatras são obrigados a suportar. Dizem alguns que esses segredos visam preservar socialmente a maternidade, que, caso informadas do que nos espera, não a cometeríamos. Duvido. Dizem também que somos tagarelas e incapazes de guardar segredos, também não é bem assim.
Ocultamos umas das outras que as mães sempre choram, e não somente lágrimas de ternura. Não me refiro aos momentos de celebração ou de conflito, em que se chora de tristeza ou de alegria pelo filho, mas àqueles em que choramos por nós mesmas.
No momento inaugural da maternidade, a recém puérpera chora porque aquela criaturinha parece incompreensível e está querendo demais. Alem disso, ela está surpresa de que o papel da mãe caiba a ela, que ainda é tão filha, sente-se abandonada pelas mulheres mais velhas, que por vezes ajudam, mas parecem não compreender pelo quê ela está passando. Mas acima de tudo é um choro inexplicável, de emoção pura, de vazão a uma experiência que é engolfante e inefável. Desculpem a comparação, mas é como quando descobrimos em nós um câncer, que por minúsculo que seja virará nossa vida do avesso, arrombará nossa rotina com o processo de sua cura, destruirá nosso modo de ver a vida, nos obrigará a reinventar tudo. O encontro com a nova vida de um filho é tão maluco como o encontro com a morte. Ambos tornam nosso passado aparentemente obsoleto e precisaremos recuperar aos poucos nossa identidade das ruínas.
Passada essa tempestade inicial, a mãe já lembra bem quem ela era, mas não tem certeza de que saberá retomar. Já sabe que não é incapaz de ser mãe, mas chora porque teme a exclusão social, acha que vai ser esquecida em todos os ambientes que agora está limitada para freqüentar. Na infância do filho, ela descobre que não construiu a criatura perfeita e chora, julgando-se fracassada, se for chamada na escola, ou o filho for excluído do time, ou da festa de pijama. Finalmente, a mãe madura chora o vazio que resta depois de cumprida a tarefa, quando terá que reorganizar sua cabeça para voltar a priorizar tudo o que antes era prescindível.
Mas nenhuma delas assumiria essas lágrimas sem morrer de vergonha, como se fosse a única a sentir tudo isso. Se ela contar para alguém, será acusada de depressiva, narcisista e possessiva, quando na verdade está numa recorrente crise de identidade. Enfim, não há mulher que não enfrente suas sinas sociais quando tem filhos e é marginalizada por isso, e quando não os tem, idem. E haja flores, presentinhos e publicidade para dourar essa pílula.