Modelo de atitude

Sobre uma declaração de Gisele Bundchen favorável ao aborto

Não se pode recriminar Gisele Bundchen por seus ditos, que primam pela raridade, enquanto sua imagem onipresente invade nosso cotidiano. Pois bem, ela falou: declarou-se favorável ao aborto, defendendo o direito das mulheres decidirem sobre seu corpo, e ao uso da camisinha!

Certas mulheres tinham uma bronca com a modelo como se ela fosse o protótipo da loira burra. Cá com meus botões, sempre pensei que ela fosse suficientemente esperta para ficar quieta. Não é fácil falar de onde ela está, qualquer fiapo de informação vira uma colcha de mal entendidos. Além do mais, ela pode muito bem pensar tão profundamente como qualquer pessoa medianamente informada, afinal ela está lá fora freqüentando passarelas, não Harvard. Consciente disso, fala pouco.

É engraçado, as mulheres atacam as que se deram bem no quesito do corpo. Entre os machos, por exemplo, um jogador de futebol vale pelo que faz em campo e os outros homens não deixam de admirá-lo por ele escorregar no português fora do gramado. É como se eles valorizassem também uma outra maneira de se dar bem, outro tipo de inteligência. Vocês acreditam que Gisele teria chegado aonde está se não tivesse um cérebro? O encanto que uma mulher produz não é só hardware, é software também. Não estou fazendo nenhuma apologia da banalização do uso do corpo feminino na mídia, é a nossa atitude agressiva frente às mulheres que venceram nesse campo que questiono, não é fácil ser mulher.

As manequins de outrora eram como as figuras de fibra plástica das lojas, só que se mexiam. Com os anos entre essas bonecas foram destacando-se algumas personagens como Twiggy, Claudia Schiffer, Kate Moss e Gisele que rivalizam com as divas do cinema no lugar de ícones femininos. Na vitrine para serem idealizadas, imitadas, invejadas e achincalhadas.

Quando eu era pequena, ganhei uma bonequinha que se chamava Flex. Era quase bidimensional, mas tinha como atrativo o fato, inédito então, de que podia ser dobrada, além de vestida como as outras. Hoje em dia qualquer Barbie de camelô faz isso. Modelos seriam como essas bonecas que as marcas e os costureiros vestem, posicionam e fotografam como bem entendem. A liberdade dessas moças restringe-se a montar um tipo à disposição do mercado, proibido engordar e envelhecer.

Pode então Gisele, que parece flexível como uma boneca articulada pelos caprichos do produto, opinar sobre fazer o que se deseja com seu corpo? Deve! Num tempo em que academias, cabeleireiros, lojas e cirurgiões plásticos fabricam séries de Barbies e Kens, as palavras da modelo são particularmente relevantes.

Como diria a revolucionária personagem Nora, da Casa de Bonecas de Ibsen, as mulheres têm antes de tudo, seus deveres para consigo mesmas. Dizia isso quando lhe era questionado o direito de ser qualquer outra coisa que não esposa e mãe. O lugar de ícone de beleza pode ser tão paralisante quanto o de rainha do lar. Para libertar-se, antes de tudo, temos as palavras. Valeu Gisele!

13/06/07 |
(0)
Nenhum Comentário Ainda.

Comente este Post

Nota: Seu e-mail não será publicado.

Siga os comentários via RSS.