Monk, Adrian Monk
Sobre o detetive da série de TV
Fui fã de carteirinha de Columbo, um seriado onde os vilões eram poderosos ou ricaços pretensiosos, enquanto o detetive, por sua vez, não podia ser mais gauche na vida. Vesgo, gordinho, de meia idade, trajando uma gabardine suja e puída. Seu maior truque era exatamente sua imagem. Esse ar de pobretão, bancando o chato e burro, levava os assassinos a nunca contar com sua astúcia. Quando descobriam que Columbo era esperto já era tarde, estavam presos.
Os motivos pelos quais ele era tão popular na década de 70 não são muito difíceis de explicar. A maioria de nós não está incluída entre os belos, abastados e poderosos, estamos mais para o esmirrado David do que para o gigante Golias. Além da justiça, que garante o encontro do crime com o castigo, há nessa história um outro tipo de ajuste de contas que nos convém: o da reconciliação com nossos defeitos. A humildade de Columbo permite a revelação de um valor oculto que se alimenta das próprias desvalias, do mesmo modo que a soberba derrota seus inimigos. As mesmas razões que movem os vilões ao crime, a cobiça e a onipotência, são as que os impedem de ficar impunes. A justiça parece voltar seus olhos aos humildes, contemplando as qualidades invisíveis, que procurando bem, todo mundo tem. Columbo é a Cinderela dos atrapalhados, fica com a vitória no final.
Além de ter reencontrado o velho seriado americano nas locadoras, tive a satisfação de descobrir uma personagem similar. Trata-se de Monk, seriado de TV (Universal Channel), também disponível nas locadoras. Monk é um detetive cuja bizarrice fica por conta de um caricatural Transtorno Obsessivo Compulsivo, pois nossos tempos hipocondríacos preferem a figura de um doente à de um excêntrico. Esse distúrbio constitui-se na evitação ritualizada e exagerada de fobias comuns: medo de doenças, do contato humano, de altura, de avião, multidões, de alterações na sua rotina ou intimidade. E quem não se identifica, nem que seja um pouco, com uma ou mais dessas características? Monk é frágil e precisa da companhia constante de uma espécie de enfermeira, uma Watson de saias, que compensa seu despreparo para a vida prática. E quem é que não gostaria de andar com uma mãe de aluguel a tiracolo?
Para proteger-se, Monk controla cada minúcia do ambiente, por isso tornou-se um observador imbatível na contabilidade dos detalhes e na busca da ordenação lógica de qualquer evento. A morte é o mais insondável dos enigmas, mas histórias de detetive lhe emprestam a benesse de uma explicação. Um crime irresoluto é algo que embaralha a lógica, sua condição de erro e mistério são um desalinho da razão.
Monk considera suas incontáveis compulsões como uma maldição e um dom. Esse aparente paradoxo é mais usual do que parece, pois é dos defeitos que se alimentam nossas virtudes mais interessantes. Estamos mais para Monk do que para Bond, o homem quase perfeito. Portanto, antes de prometer que você será “outro” no ano que vem, descubra o que é que dá para fazer de interessante a partir dos males que lhe afligem e feliz ano novo!
Monk é um personagem fascinante, tem dramaticidade, contradições e subjetividades. Alguém de quem a gente não se cansa, por isso tanto sucesso.