Morrer de véspera
A consciência da morte obriga a objetivar as escolhas: não teremos tempo de ser e ter tudo
Bilbo tem 13 anos. Para humanos é o fim da infância, na sua trajetória canina é o fim da vida. Mas isso não é novidade para ele, nem para nós. Já faz cinco anos que dois veterinários diferentes lhe deram pouco tempo de vida. Alegavam, o que deve ser verdade, pois apareceu nos exames da época, que ele tinha o coração quase do tamanho da caixa torácica e trinta por cento da função renal. A não ser que um milagre tenha acontecido, isso só pode ter piorado. Na ocasião lhe receitaram vários remédios, ração especial, uma vida de velho. Ele detestou, é próprio da sua raça a infância eterna. Nenhum bulldog francês amadurece, só ficam mais lentinhos. Os tratamentos o tornaram muito magro e deprimido, ficava de mau humor cada vez que lhe empurrávamos mais uma pastilha. Por isso decidimos deixa-lo em paz: que durasse pouco, mas fosse feliz! Cortamos os remédios, a ração insossa. Livre da existência terminal, voltou a brincar e correr. Hoje, se fosse gente teria uns oitenta anos.
Na verdade, se fosse humano talvez já estivesse morto, de preocupação, de tristeza pela condenação que uma doença grave significa. Às vezes morremos de desesperança, achamos que a vida, se não for infinita, não adianta que dure. A religião tampouco consola, pois a suposta eternidade da alma já não conforta tanto. Mesmo com saúde, é só olhar em volta e acabamos fazendo os cálculos de quantas estimadas décadas nos restam, na melhor das hipóteses. Aliás, o envelhecimento é exorcizado principalmente porque informa do tempo que já gastamos. Velhice é folha corrida. A fantasia de ser eterno e intacto, como os belos vampiros contemporâneos, faz a vida parecer fonte de infinitas possibilidades. A consciência da morte obriga a objetivar as escolhas: não teremos tempo de ser e ter tudo. Mas entre a ignorância do animal e o pensamento negativista dos homens há outras atitudes bem mais inspiradoras.
Convivi com amigos que, ao invés de morrer de véspera, fizeram de uma má notícia fonte de sabedoria. Há duas décadas o diagnóstico da contaminação com o vírus HIV era um prenúncio de morte iminente. Felizmente, não foi assim para todos, mesmo antes da descoberta do coquetel. Em alguns casos, a ameaça de morte os livrou das dúvidas pueris, da adolescência eterna. Agarraram-se à vida com vontade, viabilizaram escolhas profissionais, relacionamentos estáveis. Acabaram o estágio. Pressionados, se efetivaram no emprego da existência. A medicação, que lhes devolveu a imunidade, já os encontrou de bem com a vida. Woody Allen dizia que a palavra mais bela que já tinha ouvido era: “benigno”. Sua hipocondria cômica sempre nos lembra que a consciência da morte pode ajudar a repactuar com a vida. Mesmo que o fim seja certo, por que não seguir alegremente? Como meu velho cão.
(publicado na Revista Vida Simples, edição de janeiro)
Lindo!
OLA DIANA, ADOREI O BILBO TER CHEGADO AOS TREZE ANOS, SINAL QUE ESTÁ FELIZ E COM VONTADE DE VIVER JUNTO A VCS. TENHO CURIOSIDADE DE SABER COMO ELE ESTÁ? ADORO BULDOGUE FRANCES, SEU LATIDO ROUCO, ELE É MUITO SIMPÁTICO!
TENHO UM S. BERNARDO COM 8 ANOS, FICARIA MUITO FELIZ SE ELE CONSEGUISSE SUPERAR OS 13 ANOS! SEU TAMANHO É IGUAL A SUA DOÇURA, BONDADE E SURPREENDA-SE MEIGUICE!!! ABRAÇOS , GOSTO MUITO DE SUA COLUNA, PARABÉNS!