Não me siga, também estou perdido
Sobre o filme Aos Treze
Sempre achei divertido encontrar este adesivo para carros com os dizeres acima e a frase é a tônica de um filme em cartaz que vale a pena prestigiar. É uma história sobre adolescentes, mas gostaria que fosse visto prestando atenção nos adultos da trama, que parecem ter um adesivo destes colado na testa.
O filme chama-se Aos treze (Thirteen, dirigido por Catherine Hardwicke), é um roteiro romanceado a partir da experiência verídica de uma das protagonistas. Trata-se de uma jovem americana, sensível e responsável, que passa por uma radical transformação quando resolve se “montar” como uma das garotas mais populares e atraentes da escola. Não poupa esforços para se aproximar da sua musa, faz todas as transgressões necessárias para chamar sua atenção, corre riscos e faz loucuras capazes de deixar o espectador nauseado. Afinal, é bem sucedida em sua paixão fraterna e consegue viver com ela como uma irmã, levando a mesma vida da garota popular: viciada em objetos de consumo, cleptomaníca, drogada e ninfomaníaca. Todos estes atributos, longe de demonizar seu personagem, são um retrato da sua fragilidade. O sexo compulsivo é a forma de vínculo que consegue conquistar, os objetos são o cerne da sua identidade, ela os arranca das lojas como uma criança usaria os sapatos e a maquiagem da sua mãe, e as drogas são o combustível necessário para a coragem que todos estes atos requerem. Os adultos do filme competem em carência com os jovens. A mãe da garota é uma alcoólatra, lutando para manter o mínimo de sobriedade na vida para criar seus filhos, o que faz com muito amor e dedicação, seu namorado é um junkie afetuoso, enquanto o pai da jovem é um covarde acuado.
Todos os personagens estão em busca de alguma razão de ser, mas enquanto os mais velhos se anestesiam com drogas e álcool, os mais jovens lançam mão à aparência, aos objetos, etiquetas e marcas. A base é essencialmente a mesma, mas o vício sofreu alguma alteração. Em última instância, não há nenhum adulto no filme, já que os mais velhos são visivelmente fascinados pelas promessas de gozo que atribuem à juventude. A mãe assiste a mutação da menina preocupada, mas ao mesmo tempo paralisada, hipnotizada pelo personagem que surge daí: a mulher bela e sem limites. Mas quem não ficaria seduzida pela invocação destes poderes? Aos treze não é apenas um filme sobre uma adolescência difícil, é sobre os revezes de crescer num tempo em que poucos têm coragem de ser adultos.