Noivos nervosos
Sobre as pomposas cerimônias de casamento
Acontece na vida real, acontece na televisão: o casamento é um ritual cada vez mais complexo, cheio de detalhes tão insignificantes quanto significativos. Na televisão a cabo, há programas, do tipo reality show, onde uma noiva estressada é acompanhada nos preparativos do seu dia de princesa. Há outro só sobre comidas de banquete de casamento, e ainda “Três noivas gordas e um vestido magro”, uma competição de perda de peso pela indumentária, entre tantos outros. Na vida real, a preparação da cerimônia leva no mínimo meses: todo detalhe é importante, flores, roupas, champagne, comidas, luzes, devem se combinar numa apoteose em que cada item deve traduzir o amor dos noivos, selar sua união.
Já que maio de 68 aniversaria, permitam-me um momento saudosista: sinto falta da informalidade das uniões entre os que crescemos marcados pela revolução dos costumes. Gostava da sem cerimônia com a qual as pessoas iam morar juntas, ou faziam uma festa do seu jeito para comemorar a união. Debutar estava fora de moda, formaturas estavam em declínio, e tampouco havia formaturas de jardim de infância.
Nas diferentes formas de comemorar datas marcantes, o que muda é o lugar onde assentamos a expectativa de aprovação, a segurança de que estamos fazendo a coisa certa do jeito certo. No tempo das bisavós, a validade do casamento estava garantida pelos rituais religiosos, a festa era complemento. Para muitos dos meus contemporâneos, hoje pais e avós, ignorar as convenções e ir morar junto era acreditar que o amor bastava, não precisávamos da aprovação de ninguém e, além do mais, graças ao legado da contracultura, tínhamos aprendido que o laço só seria eterno enquanto durasse.
Talvez como forma de crítica a esse passado recente de irreverência ou, quiçá, porque esta geração seja menos romântica que a anterior, hoje se acredite, acima de tudo, nas convenções. Pouco importa que alguns desses casamentos durem meses, nada abala o sonho dos noivos de ao menos por um dia serem o centro das atenções, vestidos de gala, enfeites personalizados e até mestre de cerimônias. Tudo pelo ritual!
Nunca fomos tão intolerantes em termos amorosos, tudo é motivo para dizer “não brinco mais”. Suspeito que quem quer uma cerimônia perfeita, exigirá o mesmo da relação, com o qual, temos um risco de fracasso aumentado. É óbvio que essa proliferação de quinquilharias em torno do amor não garante a força dos laços, talvez ela seja o anseio de que a pompa empreste uma consistência ao novo casal. Afinal, casamentos de qualquer tipo, são sempre um voto de esperança.