O encanto do Japão

Sobre Mangás e o fascínio dos jovens pela cultura japonesa

Mangás não são uma parte da blusa com um acento fora do lugar. Esse nome designa as revistas de histórias em quadrinhos originárias do Japão, que caíram nas graças de um extenso número de jovens. Uma população muito maior do que aqueles que não convivem com essa faixa etária poderiam supor. Essas revistas possuem desenhos em geral muito bonitos, onde há heróis e heroínas de olhos imensos, lutas de prestígio, magia e toques de ficção científica. Esses personagens podem até viver aventuras fantásticas, mas são muito mais humanos do que os dos comics de origem americana, pois são sujeitos à inveja, à autocomiseração, têm problemas de auto estima, crises de raiva, momentos de egoísmo e outras realidades psíquicas. Para ler um Mangá, você deve começar de trás para frente e da direita para a esquerda, conforme a escrita oriental. O gênero é de leitura árdua e lenta para os não iniciados, pois para compreender as histórias é necessário conhecer certas chaves, algumas delas acessíveis somente para aqueles que são familiarizados com a cultura japonesa e habituados a esse tipo de publicação. Juntamente com essas revistas, esse grupo de jovens admira o código dos samurais, suas armas e utiliza palavras orientais como codinomes nas suas participações na rede, muitos inclusive têm estudado japonês. E eles não estão sós: as grandes produções cinematográficas já incluem as lutas e personagens orientais entre os itens obrigatórios.

Os grandes olhos dos personagens dos Mangás já foram interpretados por alguns como uma negação da própria imagem, afinal porque um povo de olhos oblíquos optaria por personagens de imensos e claros globos oculares? Sonia Bibe Luyten (dela:“Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses”, Ed. Hedra, 2000) supõe que eles têm outro sentido. Esse seria um olhar interiorizado, “impenetrável, hermético”, que visa libertar as fantasias do leitor (não dizemos que os olhos são a janela da alma?). Um escapismo imprescindível numa sociedade opressiva como a japonesa. Pois bem, talvez essas figurações tenham também algo a dizer aos nossos estressados jovens: eles também buscam uma certa cota de alienação, encontrável nas fantasias dessas revistas. Elas oferecem uma bem dosada mistura de realidade e sonho, na medida em que os personagens partem de sofrimentos e exigências inclementes (muitas vezes subjetivos), num mundo parece ter lugar reservado para poucos. Isso é o Japão? Não, provavelmente o capitalismo avançado nos torna mais nipônicos do que pensamos. Antes, seria a sociedade competitiva e individualista buscando uma metaforização possível através dessa cultura, o Japão fascina pela síntese entre o passado e o futuro (hiper-tradicional e hiper-tecnológico). Nesse sentido, vem a calhar poder contar imaginariamente com ancestrais, bravos samurais, que emprestem alguma grandeza aos desafios tão sem graça que enfrentamos. Os Mangás são uma forma de espiritualidade possível para as lutas de prestígio que se impõe a uma juventude de futuro incerto.

12/01/05 |
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