O eterno retorno do terror trash
Sobre filmes de terror para e com adolescentes
Isto não é uma recomendação, se você assistir esse filme não me culpe. Trata-se de A Casa de Cera (Jaume Collet-Serra, 2005), a mais recente versão de uma repetitiva fórmula de filmes de chacina de adolescentes, que faz sucesso há, no mínimo, duas décadas. A questão é pensar a que público e finalidade ela serve. Não há nada de novo nesse representante do estilo inaugurado por monstros como Jason (Sexta Feira 13, 1980) e Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo, 1984). Agora temos um par de gêmeos malignos, filhos de uma artista que fabricava sinistros bonecos de cera. A obsessão dos irmãos é transformar pessoas em bonecos de cera e assim terminar a obra da finada mamãe. Para tanto, as vítimas de plantão serão as de sempre, provenientes de um alegre e frívolo grupo de jovens americanos, cuja única preocupação parece ser transar e se divertir. Claro, serão quase todos massacrados enquanto inocentemente estavam distraídos com seus jogos sexuais.
Boa parte do sucesso do terror trash se dá entre os grupos de adolescentes mais jovens (virgens), que se reúnem, madrugada adentro, em longas sessões domésticas de filmes, pipoca, refrigerante, sangue e medo. Mas por que eles gostariam de ver cenas de sexo que, no lugar do orgasmo, terminam em corpos esfacelados? Afinal, a meninada não fantasia com a possibilidade de divertir-se despreocupadamente?
É bom ressaltar que muitos desses monstros assassinos são resultantes de algum trauma pendente do passado. Jason, por exemplo, é o fantasma de um menino que morreu afogado no lago do acampamento, enquanto os monitores se descuidaram dele, transando. Ele encarna a vingança de sua mãe desconsolada. Pelo jeito, é inevitável que os erros do passado assombrem o presente.
Paradoxalmente, a adolescência é época de uma certa onipotência: correm-se riscos, acredita-se estar no controle das coisas, subestima-se a complexidade dos problemas. Mas ela é ameaçada por esses monstros, representantes de velhos traumas, do inconsciente (Krueger assombra os sonhos), da gratuidade do mal e da morte, para lembrar que a vida é mais complicada e frágil do que parece.
Estranha mistura essa, que produz cenas como a da jovem fazendo um strip-tease para o namorado (e o público) e sendo na seqüência massacrada, numa morte nojenta. Enquanto o sexo se anuncia, erótico e prometedor, é a morte que acaba sendo pornográfica e explícita. Pode ser que estejamos frente à fetichização da morte, ou que seja um representação violenta do sexo, passível até de certa erotização (como na visão infantil ou nas fantasias femininas). Mas temos aqui principalmente uma obsessão moralizante, nem a igreja faria melhor. Talvez esse desfecho catastrófico para o sexo seja, dum modo caricatural, uma forma de renovar o pudor perdido para as novas gerações. Criados com pornografia televisiva desde a mamadeira, os jovens invocam, de forma esdrúxula, as proibições morais e os castigos infernais que serviam de tempero para o sexo dos mais antigos. Gostos são gostos…