O homem visível

Sobre imagem

O homem visível está no cartaz, ele é bidimensional. Dias atrás, passando por uma vitrine de perfumes, vi o cartaz de um homem visível: lindo, másculo, jovem, enigmático. Perguntei às pessoas que estavam comigo de qual filme era aquele ator, ninguém lembrou. Quando estávamos nos afastando, uma voz forte respondeu: – “É do Homem Aranha”. Levamos um pequeno susto, não tínhamos notado mais ninguém. Foi então que vimos um segurança parado ao lado da vitrine. Ele ria para nós e de nós, notou que nos assustamos. Era o Homem Invisível, um herói anônimo, fortemente paramentado para nos proteger caso necessário. É pena, mas o Homem Aranha está tão ocupado com sua carreira artística que já não aparece para nos salvar, nem ao menos nos leva para voar no seu cipó aracnídeo.Naquele instante o rapaz da segurança não se resignou ao papel de estátua e se tornou mais visível que o ator do cartaz. Quantas vezes apostamos no herói bidimensional, enquanto estamos completamente cegos para a criatura real, tridimensional que está ali, invisível. Isso é o que chamamos de “ideal”: o real maquiado, aquilo que é tudo que não somos. O ideal tem retoques de fotoshop, efeitos especiais. Na vida do homem ideal existem mutações que fortalecem, transformam-se em poderes. Já na vida real as mutações atendem pelo nome de câncer. Nosso Homem Invisível pega ônibus sem colete à prova de balas, e provavelmente pouco consome no shopping cuja segurança garante. O real é sempre mais encolhido, triste, por isso tendemos a achar o ideal mais visível que o real.

O problema é que cada um de nós parece-se mais com o Herói Invisível do que com o Homem Aranha. O Homem Aranha é uma versão fantasiosa do que gostaríamos que o segurança do shopping fosse, mas não é. Da mesma forma, cada um de nós é uma pálida versão do seu ideal.  Somos invisíveis relativo àquilo que consideramos que deveríamos dar a ver: muito mais força, invencibilidade, poder, beleza, independência do que, na prática, somos capazes.

Groucho Marx brincava que ele jamais entraria para um clube que o aceitasse como sócio, nem nós. Por isso, paradoxalmente, costumamos amar os que nos desprezam e desprezar àqueles que nos amam. Como só temos olhos para nosso ideal, não supomos que alguém vá se engraçar pela nossa condição real. Vale lembrar que na verdade, nosso ego é sempre meio remediado: pega trem, mora na periferia, mas por sorte, acha jeito de se divertir mesmo quando está trabalhando de estátua. Isso é o que nos salva!

13/05/09 |
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