O preço da genialidade

Sobre filhos geniais em 01/05/2002

“As crianças são as mensagens vivas que enviamos a um tempo que não veremos”, escreveu Neil Postman. Nelas fazemos as maiores apostas, delas esperamos grandes feitos. Outrora grandes homens construíam grandes nomes,funcionando como um guarda-chuva que abrigaria as gerações vindouras. Hoje quem quer ser importante investe pesado no aperfeiçoamento da sua prole. Paradoxalmente, nos vemos nos sucessos ou fracassos de nossos filhos, antes era ao contrário. Sabemos que tudo o que fizermos ou pensarmos influirá e nunca tivemos tanto medo de errar.

Não é à toa que os gênios não param de marcar presença na ficção contemporânea. Uma Mente Brilhante, Os Excêntricos Tenenbaums, Jimmy Neutron, só para citar os do último Oscar, nos lembram que não poupamos expectativas de que as crianças recompensem os esforços educativos com sua genialidade. Porém, não raro eles são “nerds”, malucos, franzinos e descontextualizados pelo seu excesso de inteligência. 

Quando um tema insiste, sempre revela algo que estamos tentando entender, elaborar. Estes gênios da ficção são a caricatura da criança moderna, cujo potencial parece ser tão ilimitado quanto nossa capacidade de investimento. São também as provas de que alguém pode se desenvolver de forma bizarra a fim de realizar o sonho dos pais.

Criamos gênios do detalhe, que para dar conta de uma especialidade ignoram o resto do mundo.A tarefa de tornar-se a grande obra de outrem, pode fazer alguém capaz de verdadeiras proezas matemáticas, informáticas ou lingüísticas, porém incapaz de ter um amigo. O resultado é um filho-Chester, que mal se locomove mas tem um grande peito comestível

Os gênios malucos são ao mesmo tempo o sonho e o pesadelo dos pais de hoje. A perfeição em determinada área pode representar uma ignorância absoluta do contexto. Afinal, é por saber que o desejo dos pais é inatingível, que conseguimos adaptar algo de seus sonhos para uso pessoal. Quando uma mente brilhante conquista seus méritos, perguntamos em uníssono: a que preço? Felizmente já descobrimos que somos frágeis, que a loucura e o fracasso vem da mesma fonte com que nutrimos o tão cobiçado sucesso.

01/05/02 |
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