O Profeta
Crítica do filme
O Profeta, filme dirigido por Jacques Audiard, é uma produção francesa, da história de Malik, um rapaz de origem árabe, que amadurece dentro de uma cadeia, sendo que passa boa parte do tempo ligado à máfia da córsega. Filme falado em três línguas, transcorrido entre as grades quase todo o tempo, violento, com gente nada bonita, sujo e…belo. A fotografia é imperdível, grandes planos de rosto, como nos filmes de Van Sant. Filme confuso, onde se mistura o objetivo com o subjetivo de forma muito sutil, e tocante. Mas o importante mesmo é que é um romance de formação: o garoto entra no lugar como órfão, parece ser um transgressor renitente, apesar de que não ficamos sabendo muito bem o que ele fez, nem isso tem importância.
Ao longo de seus anos de cadeia vai aprendendo, é adotado e escorraçado por um líder corso, obrigam-no a matar, encontra quem o incentive a estudar. Entra menino e sai homem, construído a partir de uma colcha de retalhos de experiências e identificações, feito de atos ousados, de rompimentos, de escolhas. No final, de um modo muito enviesado é ao mesmo tempo árabe, mafioso, instruído. É possível isso?
Afinal, o sistema carcerário e as más companhias não fabricam somente indivíduos
toscos, assassinos, psicopatas, gente que só pensa em rapinar e satisfazer-se? Como é fácil pensar assim, ficamos nós aqui e eles lá e o mundo devidamente compartimentado. Mas não é o caso, no presídio, como na vida, a formação de um indivíduo é complexa e pode levar a muitos destinos. Entre os psicopatas que moram nas cadeias, os garotos que crescem em reformatórios, como Malik, há um trabalho de fazer-se a si mesmo onde se colhe experiências, planta-se atos e das conseqüências disso resultam indivíduos diferentes, de destino imprevisível e subjetividade complexa.
Talvez essa seja uma importante lição para que possamos aprender a lidar com a população carcerária, foco de gastos públicos, desprezo e temor coletivos e símbolo da desesperança. Cada uma daquelas pessoas tem uma trajetória de vida e faz com ela o que consegue, compreende-la e coloca-la em questão deve ser um complemento necessário da reclusão. Por que alguém seguiu, se aliou ou identificou com determinadas pessoas? Na resposta a essas perguntas está a história de uma vida, de Malik e de tantos outros com os quais não queremos nos encontrar numa esquina escura.
Publicado no blog “Terra do Nunca” em 31 de julho de 2010
Oi Diana, sou psicólogo e trabalho com adolescentes em conflito com a Lei, e gostei muito deste teu texto, principalmente quando tu pontuou a necessidade de propormos um entendimento de quais foram os “descaminhos” da vida deste sujeito e não apenas encarcerar eles a uma contençao de um espaço físico (prisão, unidades de atendimento socioeducativo, etc). Sem dúvida a vida pode ser reinventada, basta estarmos dispostos a nos implicar com isso… abço.
o descarrilhamento do outro nos deixa angustiados, preferimos que a diferença desapareça, seja suprimida… nobre trabalho, teu!
abraços
diana
oi diana, olha só, temos um blog da ong em que trabalho com adolescentes em conflito com a lei, e gostaria de ver se tu autoriza que eu coloque este teu texto no nosso blog, o endereço é http://www.cededicapf.blogspot.com
agradeço, abco
pedro