O vira
kit anti-homofobia, preconceito, pais
Início dos anos 2000 minha filha caçula participava de uma gincana na escola que incluía uma dança da turma com música dos anos 70. Ela sugeriu “O Vira”, dos Secos & Molhados, que adorava. Seus colegas aderiram e criaram uma coreografia para o rock antigo. A letra fala de seres mágicos, é fácil de decorar, o ritmo lembra uma música folclórica portuguesa. O estribilho repetia: “-Vira, vira, vira homem, vira, vira. Vira, vira, lobisomem”. Nós, os adultos, ficamos entusiasmados por ver revitalizada uma música que fora significativa para nossa geração, até que um pai se desesperou. Não queria que seu filho participasse da dança que, para ele, era uma apologia aos homossexuais. Não conseguiu impugnar a música, que defendemos com unhas e dentes, mas impediu seu filho de participar da apresentação. Estaria preservada a heterossexualidade do garoto?
Havia uma lenda que o nome original do conjunto seria Secos, Frescos & Molhados e que eles teriam sido impedidos de registrar tal afronta moral, afinal, eram anos duros. De qualquer forma, voz ambígua de Ney Matogrosso não mentia: feminino e masculino não possuem fronteiras tão claras como se queria crer. A suposta contrariedade dos censores era compreensível, os músicos estavam brincando com a ambigüidade sexual. Mas no que isso influiria no destino erótico de qualquer um?
Corta para o ano 2011: uma grande iniciativa, o kit anti-homofobia – composto de material de divulgação sobre a intolerância frente às relações e comportamentos homoafetivos nas escolas – enfrenta um caloroso debate. Um dos temores dos críticos é que o material instigue os jovens a serem homossexuais. Talvez a campanha possa passar por alguns ajustes, mas é sempre bom lembrar que não há propaganda, imagem ou música que possa pender a identidade e escolha de objeto sexual de alguém. Acredito que não se nasce gay, torna-se, mas é por caminhos nada óbvios. É a forma como nos situamos dentro de uma família, de uma época, que vai determinar com quem vamos parecer e a quem vamos amar. Um homem, por exemplo, pode ter uma identificação feminina e amar mulheres ou ser perfeitamente viril e desejar outros homens.
É nas sutilezas da história de alguém que sua sexualidade se define. Nenhuma influência pontual mudará a complexidade de um destino, ela pode, no máximo, dar-lhe voz. Mas os rumos imprevisíveis da sexualidade mexem com os ânimos dos mais inseguros: a revelação da diferença angustia, pensam que seus desejos secretos, tão comuns, podem ser revelados ou ativados por manifestações culturais. O pânico de nada serve, exorcizar supostas influências não oferece a garantia que os inquietos gostariam de ter. A sexualidade se constrói junto com a identidade e a cada um cabe viver a dor e a delícia de ser o que é.
Oi, Diana. Saudades.
Sobre o texto, o que me intriga é que as pessoas têm medo que seus filhos sejam influenciados a serem gays mas esquecem que desde o primeiro dia de vida eles passam sendo influenciados a serem heterossexuais.
Um beijo!
maria!!!
saudades!! bom escutar algo de ti. de fato, a imposição de ser heterossexual, junto com as tarefas de “tenha filhos”, “encabece uma família”, “transmita bons valores”, etc, acabam constituindo uma identidade tão sufocante, frente à qual ser gay parece uma das raras formas de tornar-se livre, dono do seu destino e até de uma certa alegria que a palavra em inglês sugere. tenho notado, pelos relatos das noites (que já sou meio antiga pra frequentar) que os heterossexuais são muito toscos e estereotipados para se divertir. a heterossexualidade tornou-se triste, acho…
beijos
diana
é difícil,mas o brasil culturalmente,pensa,que o homosexual,é doente,ou que ” pega “…mas também o brasileiro,cultua muito essa parte,acha bonito,estatisticamente,mais 40 anos,e não teremos homens,másculos,somente,mulheres,e homens homosexuais,é uma tendência mundial,houve enfraquecimento,dos cromossomas…
e o brasileiro,adora se vestir de mulher,gosto de utilizar acessórios femininos,como uma ode a sua mãe,sua avó,e suas tias,é tendência,no brasil.
Abraço,Maria Ignácia.
eu definitivamente nao consigo ver nenhum conteudo gay nessa letra. Voce pode me explicar?
leia denovo! vira, vira!