Orgulho gay
Sobre o orgulho e a parada gay
Vinte e quatro horas depois do dia dos namorados, mais de um milhão de pessoas se reuniram em São Paulo numa alegre confraternização: a 8ª Parada do Orgulho Gay. Depois que a publicidade do dia dos namorados nos encharcou duma versão idealizada do amor romântico, heterossexual, entre pessoas lindas, da mesma faixa etária e outras banalidades, é bem vinda esta celebração de outras formas de amar.
O amor homossexual sempre despertou muitos preconceitos pelas razões religiosas que são bem conhecidas, mas não só por isso. Gays e lésbicas tornam indisfarçável que há erotismo em mais lugares do que julgamos. Quando conseguirmos substituir vergonha por orgulho, não haverá mais como negar que os desejos eróticos possuem muitas formas. Nem todas são realizáveis, a maioria delas não se traduz sequer numa fantasia, mas o desejo está no ar, inclusive em estações que não costumamos sintonizar…
O evento paulista deste ano foi considerado por alguns jornais a maior parada gay do mundo. Lá estavam, além dos diretamente envolvidos, seus familiares, amigos e pessoas que acreditam que é importante viver num mundo com menos preconceitos. O convívio normal com os desejos e os relacionamentos homossexuais não significa que dali em diante os amores heterossexuais serão substituídos por laços amorosos gays. Não creio que o fim do preconceito produzirá alterações significativas nos caminhos do desejo de qualquer um, se fosse assim, tais relacionamentos teriam desaparecido sob tantas perseguições. Teremos apenas gays que não precisarão sofrer tanto pelo que sentem. Quanto aos heterossexuais, terão que se acostumar com a idéia de que há mais entre o céu e a terra do que o desejo erótico franco e claro entre dois indivíduos de sexo oposto.
Hoje sabemos o quanto as identidades sexuais se entrecruzam, a sensibilidade já se inclui na masculinidade e a força pertence também às mulheres. Pois bem, agora temos claro que há mais uma encruzilhada na qual se dividem as pessoas: a modalidade hetero e homossexual de amar. Enquanto os homossexuais viviam em seus armários, a sociedade procedia como se esta questão não existisse e nos fazíamos de surdos para as nuances que existem entre nós e em cada um de nós. O orgulho gay é uma conquista até para quem não o é, pois sofistica a nossa compreensão da gama de sentimentos e desejos possíveis, aliás, vai ser bom quando não for necessário sequer se orgulhar, apenas viver de acordo com seu modo de amar. Os gays não inventaram nada, o que eles proclamam sempre esteve conosco, apenas agora se tornará possível pensar a respeito. Obrigado a estes indivíduos tão corajosos.