Os homens e sua caixa do nada
Sobre a subjetividade masculina
Nunca acreditei que os homens fossem de Marte e as mulheres de Vênus. Devido à minha natureza beligerante, acho que sou mais Marte. Se tivesse que escolher planetas para os sexos, destinaria toda a espécie feminina a Marte, graças à agressividade intrínseca e velada da relação entre nós mulheres. Quanto aos homens, não os identificaria com Vênus, porque nas questões do amor nunca serão nativos de planeta nenhum. Talvez os destinasse – por que não – à própria Terra, afinal andam tão desinteressados de grandes transcendências.
Como nós, eles também se estranham entre si quando algum tenta sobressair-se aos outros, justamente porque são uns exibidos profissionais. Além disso, há a disputa pelo cargo de chefe da matilha, que inclui vários rituais, que podem envolver objetos corpóreos e incorpóreos, que serão exibidos, medidos, compartilhados e permutados, conforme a necessidade do momento.
Da diferença entre os sexos, cada vez mais sei que pouco sei. Mas encontrei no youtube alguma resposta para tranqüilizar minhas inquietações: pode ser acessado digitando “cérebro masculino e feminino” ou http://www.youtube.com/watch?v=RLbOuHX8rMA . Trata-se da apresentação de um humorista americano que explica como a cabeça do homem é composta de caixinhas cuidadosamente separadas, onde tudo está classificado, nada se toca, nem se mistura; enquanto a das mulheres mais se parece com a internet, onde tudo se comunica, se interpenetra, e nada se hierarquiza. Por isso as mulheres podem executar várias tarefas eficientemente ao mesmo tempo, além de tratar todos os assuntos simultaneamente sem perder o fio, para desespero completo de seus parceiros.
Essa classificação é interessante, mas fiquei mesmo encantada com aquela que o humorista declarou ser a caixa predileta dos homens: a “caixa do nada”. Ela é vazia, óbvio, e é em seu interior que eles se refugiam quando exaustos, lá eles zapeiam, assistem futebol, pescam, lêem jornal, bebem cerveja ou consertam coisas.
Quando contei dessa caixa a uma amiga, ela exclamou: “que inveja do pênis que nada, eu tenho inveja é da caixa do nada!” Olhando de perto, na verdade não existe contradição entre essas duas invejas: é justamente porque os homens têm um lugar no mundo há milênios que eles podem se dar ao luxo de reduzir-se a nada. Quanto a nós, inquietas e inseguras de ocupar os lugares visíveis, novatas da ribalta, ainda alienígenas no mundo externo ao lar, não podemos dar-nos ao luxo de desaparecer. De natal, eu quero uma “caixa do nada”!