Os normais: amor com humor

Sobre o programa humorístico Os Normais em 14/11/2001

Vani ergue a cabeça, sai do entrevero erótico, olha  o telespectador e diz: não se iluda, estou pensando em outra coisa. Rui também sai da cena e expõe suas ridículas mesquinharias. Está no ar “Os normais”, uma sátira da relação amorosa que tem cativado até o público menos televisivo.

O amor é o último refúgio sagrado. Duvidamos de certezas antes inquestionáveis, mas poucos ousariam retirar suas esperanças de que a felicidade esteja nos braços de um ser amado. Talvez por isso somos tão exigentes com nossas relações e parceiros. As inúmeras aventuras sexuais e amorosas são a dança da esperança depositada no amor. O orgasmo seria então a encarnação última desta utopia, o ato de comunhão total  em que sou tudo o que o outro quer de mim e tenho tudo o que quero do outro. Os Normais vem nos lembrar que tudo não passa de um momento…

As ficções poderão alimentar ou abalar a ilusão romântica, mas em geral permanecemos dentro dela e não por acaso poucos resistem à sedução de alguma forma de final feliz. A comédia é diferente. O  riso é conseqüência de uma desmontagem da cena que, paradoxalmente, cria outro pacto: rimos do que não chegou a ser dito e para isso precisamos pensar junto com quem fez a piada. Não é à toa que a inteligência é medida também pela capacidade de compreender piadas, pois elas pressupõem uma parte não dita, um subtexto que o enunciador apenas deixa entrever e o ouvinte deduz, esse é o efeito cômico. Freud incluiu o chiste entre as formações do inconsciente, pois alguém escuta algo que na prática não foi dito, que se admite sem dizer, é a enunciação do inefável .

Somos infantis, entediados e acima de tudo inseguros. Da desmontagem dos fetiches e maquiagens nasce a doçura de uma relação bem normal. O humor vem para lembrar que o amor ganha se souber usar seu pacto: uma relação não se viabiliza pelas máscaras que interpomos entre nós, mas sim pelas risadas que soubermos compartilhar. É por isso que Rui e Vani se divertem tanto quanto o público. Que do nosso riso também brote a tolerância à normalidade da condição neurótica de cada um e o leito dos telespectadores poderá se tornar tão divertido quanto o programa.

14/11/01 |
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