Psicopreconceito

Sobre os preconceitos pseudo psicológicos e religiosos a respeito da homossexualidade

A Igreja Católica emite suas opiniões e ninguém é obrigado a leva-las em conta, fora seus fiéis. Em um glossário recém divulgado (Lexicon – Um dicionário Católico, coordenado pelo cardeal Alfonso Trujillo) o Vaticano qualificou o homossexualismo como um problema oriundo de um “conflito psicológico não-resolvido”, afirmando que as nações que legislaram em prol do reconhecimento civil de uniões homossexuais “negam um problema psicológico que joga a homossexualidade contra o tecido social”. Não me oporia a que uma religião fizesse exposição pública de seus preconceitos e de sua rigidez moral, faz parte, o que me move a opinar é o argumento psicológico que é utilizado para fundamentar a condenação moral de uma forma de amar.

Toda escolha amorosa, inclusive a dos casamentos heterossexuais que essa mesma igreja abençoa, é sintomática, ou seja, sempre se trata de um conflito psicológico que tenta se resolver através do amor. Também cabe esclarecer que a identificação sexual (ser masculino ou feminino) e a escolha amorosa (hetero ou homossexual) não são compra casada. É possível estar muito fortemente amarrado ao sexo em que se nasceu e ser homossexual. Assim como existem mulheres másculas e homens afeminados que podem amar pessoas do sexo oposto e constituírem famílias das mais tradicionais.

Amar é ter alguém como interlocutor privilegiado de um infatigável diálogo que busca em cada troca de olhares, em cada contato, respostas a todas as dúvidas e inseguranças de nosso instável ser. Este pacto amoroso pode ser feito com alguém mais velho, mais jovem, mais amigo, do mesmo sexo, mais distante, mais cruel, imaginário, abandônico, possessivo, enfim as combinações são infinitas e variam conforme o conflito psicológico que representam. Como vemos, toda história de amor é digna de atenção psicológica. Além disso, ao longo da vida, inúmeras vezes nos vinculamos amorosamente a pessoas do mesmo sexo, sob a forma da amizade ou da admiração, assim como dedicamos muito amor ao progenitor do nosso mesmo sexo. Quiçá por isso enerva tanto ver aqueles que enveredaram por este caminho, mostrando que talvez poderíamos tê-lo trilhado. Se um homem e uma mulher resolvem se amar monogâmicamente, ser fiéis até que a morte os separe e ter filhinhos, esta não é uma opção inquestionável e isenta de sofrimento neurótico, e o que dizer daqueles que optaram pelo celibato, seria esta uma escolha normal ou patológica? Como dizia antes, não cabe a ninguém julgar…

16/04/03 |
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