Rumo Equivocado

Sobre o livro de Elisabeth Badinter e suas criticas aos rumos do feminismo

A revolução feminista possibilitou à mulher o romper com os papéis fixos de mãe, esposa submissa e relegada aos bastidores. Muitas mulheres viram, nas novas oportunidades, desafios que somente poderiam cumprir na condição de se mimetizarem com o estilo masculino, virilizando-se. Tornaram-se agressivas e competitivas, mostrando uma incrível capacidade em territórios anteriormente dos homens. Para tanto, sacrificaram  seus desejos de constituir família, seus ideais românticos e sufocaram suas características femininas. Certo?

Não há nada de errado nessa tese, mas é parcial. Ela mostra alguns aspectos da realidade feminina, assim como também é certo que muitas tentaram manter as duas vidas, entregando-se a jornadas duplas de trabalho. Foram desafios que propiciaram avanços, mas também confusões de identidade. É como se no trabalho fosse necessário um estilo e na vida íntima outro. O que é um fato. Conseqüentemente, as mulheres saíram em busca de algum tipo de essência do feminino, como forma de debelar essa vida esquizofrênica. No trabalho tentaram impor ritmos identificados com as imagens tradicionais do seu sexo, enquanto em casa exigiram e conquistaram paridade com os companheiros na divisão das responsabilidades e privilégios. A casa ficou um pouco como o trabalho e o trabalho com um pouco de jeito de casa. Tem sido um processo, árduo, com negociações tensas e conquistas para ambos. As mulheres enriqueceram suas vidas públicas, os homens as privadas. Mas toda ação tem uma reação.

Aqui entra um livro recentemente lançado no Brasil, da polêmica pesquisadora francesa Elisabeth Badinter, que aponta alguns descaminhos na luta das mulheres. É Rumo Equivocado: o feminismo e alguns destinos (Ed.Civilização Brasileira). Badinter denuncia alguns desvios: como a tendência ao “vitimismo”, que coloca as mulheres num papel de crianças estupradas, por homens ditos predadores, e protegidas por uma justiça manipulada por suas queixas absurdas; a deconstrução da identidade masculina, considerada como um defeito a ser banido da face da terra; o retorno a um discurso sexualmente moralista, que exaltaria a fragilidade feminina, seu “natural” pendor para o recato, a maternidade e à renúncia em prol das crias. Consideradas atributos “naturalmente femininos”, essas características responderiam à busca por uma essência, que parece ter se tornado pauta prioritária entre as mulheres. E onde ficam as reivindicações, justas, por paridade salarial, direito a creches, ao aborto?  E o questionamento dos genuínos abusos cometidos sob a máscara dos rituais religiosos, como a ablação do clitóris, o casamento precoce e o uso do véu?

Homens e mulheres estão pisando em ovos, inseguros de seus papéis. Por isso, nada estranho que se incorra em retrocessos e equívocos. Mas o 8 de março está aí para nos recordar que ainda há muita luta pela frente, por melhores condições de vida pública, porque na intimidade, no amor, no sexo e na maternidade já temos nos mostrado guerreiras e inovadoras há séculos.

08/03/03 |
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Um Comentário
  1. Esse livro é de uma veracidade incrível. Porém, ainda estamos em luta sempre em prol da igualdade trabalhista em alguns setores, em liberdade de expressão que também em algumas questões sociais a mulher é silenciada abusivamente. E por incrível que pareça, ainda estamos lutando por libertação de direitos que o homem ainda pensa que não temos. Que é a liberdade de dizer NÃO a determinadas investidas masculinas no que se refere em POSSE. A mulher ainda briga pela palavra NÃO desejo você como homem, NÃO sinto desejo sexual por você, sou casada e NÃO desejo você mais como companheiro. A mulher ainda busca pelo o SIM da constituição da vida após o fim de um relacionamento.

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