Sabedorias e ingenuidades no amor
Sobre o filme o amor não tira férias, The Holyday
Comédias românticas são as herdeiras dos contos de fadas e cada temporada de férias inaugura uma nova leva. A de plantão é: O amor não tira férias (The Holiday), tradicional trama em que as vidas das personagens se entrecruzam, em direção ao esperado viveram felizes para sempre.
O amor parece ser um hit eterno, mas hoje pede um toque de humor. Em termos de bilheteria, cinco ingredientes são infalíveis: terror, violência, humor, amor e sexo. Comédias românticas combinam os três últimos. O humor permite um certo afastamento da realidade, uma irreverência regulamentar. Já amor & sexo fazem o movimento contrário. Se o humor nos possibilita um olhar de fora, que permite rir até da própria desgraça, já a paixão é a exaltação da entrega, do envolvimento total.
O detalhe desse filme, que já é típico no gênero, é o fato de todas as personagens provirem de perdas ou fracassos amorosos. Mais do que condenar os parceiros indignos do afeto recebido, cada um tenta aprender com os erros anteriores. Histórias da Carochinha sempre envolvem alguma superação do herói, de bobo a esperto, de frágil a valente, de sujo e feio a lindo e ricamente trajado. Nas mais tradicionais, isso ocorre graças a algum ajudante mágico que realiza o encantamento. Já nas atuais essa transformação requer a capacidade de crescer com a experiência. Tentamos deixar de apaixonar-nos por aqueles que maltratam, vencer as dificuldades de estabelecer vínculos, queremos ser amados em vez de somente amantes ou amigos. Essas são as ciladas mais comuns a contornar. Quer venha alguma ajuda de conselhos impressos, terapeutas, conversas com amigos ou filmes, recorremos a tudo na tentativa de alterar o padrão dos sintomas amorosos. O lado interessante disso é que estamos assumindo um pouco mais a autoria da nossa própria história. Quanto mais nos responsabilizarmos pelo que nos acontece, portanto menos queixosos das mazelas dos outros formos, mais chance há de mudar alguma coisa.
Por outro lado, comédias românticas renovam a esperança depositada no ideal da paixão. Essa é uma bem-vinda loucura passageira e curável, que faz parte do primeiro encontro dos amantes. Fisicamente produz taquicardia, sufocação; psiquicamente, um total distanciamento da vida comum, das relações habituais. É uma viagem sideral, com um inevitável pouso forçado.
Em tempos e lugares sem grandes ideais, batalhas ou missões, a busca pelo sentido da vida encontra respostas paliativas nas emoções fortes. O êxtase é até bem possível: quer admirando a perfeição daquele que amamos, num orgasmo especial, surfando ondas gigantes, voando, escalando. Agora a paixão é praticada como um esporte radical, por isso a renovação constante de relacionamentos.
Talvez os amantes estejam ficando um pouco menos ingênuos, mas a paixão ainda chega montada num cavalo branco prometendo eternos regozijos. Antiga antecâmara do amor, a paixão hoje é um fim em si. Vidas assim vertiginosas, acreditam que uma sinfonia possa ser composta somente de allegros. É uma aposta…