XXY
Sobre o filme XXY
Assisti, com imperdoável atraso ao filme argentino “XXY“. Imperdível lição do quanto nossa identidade sexual é uma questão em aberto, que passamos a vida tentando, inutilmente fechar. A intolerância com todo tipo de ambigüidade e ambivalência por parte da sexualidade alheia é a mesma que temos com as indefinições de cada um de nós.
O preço das nossas dúvidas inadmissíveis é pago por homossexuais, transexuais e todo tipo de questionador das obviedades de identidade e escolha amorosa. A pergunta da jovem do filme é “por que meu corpo tem que ser corrigido se eu nasci assim?”. A verdade é que quando chegamos berrando ao mundo, antes de dizer nosso nome, dizem nosso sexo (hoje em dia já nas primeiras ecografias estamos fadados às cores e emblemas de nosso sexo biológico), como ela poderia ser os dois, ou nenhum dos dois?
Só que ser macho ou fêmea é uma questão de amores: o dos nossos pais entre si, conosco, com seus próprios pais, é fruto da história dos amores que tivemos e suscitamos, das identidades de todos aqueles nos quais nos inspiramos para ser alguém. Ser homem ou mulher é a ponta do iceberg de um conjunto de dilemas que se leva uma vida e não se soluciona. E tudo isso, acredite-se ou não, está delicadamente sugerido na história de Alex, encarnada por uma jovem atriz impressionante em seu desempenho. Em seus gestos, olhares, a ambivalência não poderia parecer mais bela, como de fato poderia ser, se não fosse motivo de pânico em nossa cultura.