Somos todos Marcelinhos
Tudo o que você queria rir sobre a pornografia mas não tinha coragem de fazer!
Os adultos saem e, distraídos, deixam disponível conteúdo impróprio para menores no computador. Marcelinho aproveita que está sozinho para ler alto o que não devia. É criança e sua leitura é engraçada, titubeante, porque em geral não entende o que lê, como o dos que estão aprendendo. Marcelinho é um fantoche e seus quadros de humor para adultos circulam pela internet intitulados “Marcelinho lendo contos eróticos”. Evidente que as histórias pornográficas são escolhidas a dedo, para aumentar o efeito cômico, entre as mais estúpidas e mal narradas, embora nesse setor seja raro achar alguma que não o seja. Alguns bons escritores e cineastas conseguiram fazer antológicas cenas de sexo, cuja qualidade advinha de uma sensualidade em geral ausente na pornografia.
A graça do fantoche está em nos re-conectar com a curiosidade sexual infantil. Todo adulto certamente lembra de alguma cena na qual, enquanto criança, viu ou lhe contaram algo a respeito de sexo. Um interesse lúbrico, que chega cedo na vida, move os pequenos em jornadas detetivescas em busca dessas informações que, quando obtidas, fazem pouco sentido ou são interpretadas de modos equívocos.
Hoje em dia, na sexualidade que a mídia e a arte difundem continuamente, as crianças são expostas a muito mais do que deveriam ver. Porém, as imagens ou palavras não contém significados diretos ou óbvios. Os pequenos não entendem a mecânica da relação sexual de primeira. Por isso, constroem suas hipóteses, que são as teorias sexuais infantis, a partir de prazeres que conhecem bem, associados à excreção, à alimentação e à agressividade.
O quadro de Marcelinho, com sua voz infantil, lendo esses textos tira sua graça do encontro indevido entre a curiosidade infantil, saudável e bem vinda, com a exposição explícita daquilo que ainda não está no momento de compreender. A criança vai “descobrindo” o sexo aos poucos, só o que está suportando saber, é ela que deve dar o ritmo.
Mesmo depois de crescidos, somos todos Marcelinhos: o sexo é um constante desafio, uma incógnita. Na verdade, achamos que os outros estão fazendo coisas mais ousadas e divertidas das que nos ocorrem e uma miríade de promessas de prazer acena do horizonte. Seguimos a vida toda acreditando num paraíso do sexo, um hipotético quarto dos pais, onde estariam acontecendo peripécias incríveis. Ali os grandes fariam as coisas realmente grandes: infalíveis, longos, múltiplos e plenos orgasmos, que só ocorrem de forma tão espetacular na pornografia e em nossa imaginação eternamente infantil. As acrobacias e aventuras sexuais comicamente lidas por Marcelinho desvanecem um pouco do excessivo prestígio que damos ao sexo. Afinal, a grama do vizinho pode não ser tão verdinha.