Tchau-tchau lixinho!

Uma atitude ecológica é coisa de adultos, não importa a idade que se tenha!


Não importa o quando os apocalípticos possam resmungar: acredito que o mundo e seus habitantes vêm melhorando. Sei da contabilidade triste da destruição ambiental. Tampouco ignoro que preservar e cuidar são posturas em construção. Ainda assim constato que pudemos nos tornar mais civilizados. Em meio século de vida tive tempo de testemunhar mudanças radicais: na minha infância, o chão parecia bom lugar para largar qualquer lixo; praias, praças, jardins e lugares públicos no final do dia pareciam um campo de guerra onde jaziam milhares de detritos; fumava-se continuamente em todos os lugares, até nos hospitais, e ninguém achava nada disso estranho. Há muita gente que ainda não entendeu, mas fazer sujeira agora pega mal.

Cuidar dos próprios dejetos é uma forma de crescer, uma demonstração de autonomia para a qual estamos ficando mais aptos a cada geração. Pode parecer estranho, mas o cocô é nosso primeiro lixo e o penico é a inaugural experiência de responsabilidade com os dejetos. Mãe não é somente aquela que alimenta, é também a que limpa, que se incumbe dos restos da sua cria e é com muito pesar que abrimos mão de ser cuidados. Ter alguém que ande atrás de nós recolhendo o que deixamos atirado, dando um destino àquilo que descartamos, é um jeito de sentir-se amado, mas para os crescidos é uma infantilidade.

Não é incomum na vida dos bebês, que esperem a chegada da mamãe, um dia inteiro se necessário, para poder oferecer-lhe o presente do conteúdo de suas fraldas. Quando uma criança pequena descarta uma embalagem ou resto de comida a mão de sua mãe surge como extensão natural do gesto do filho, recolhendo aquilo que ele simplesmente deixa cair ou joga fora. Na verdade, nossos dejetos corporais são uma parte de nós que precisamos perder, mas mesmo que já não nos sirvam, nunca abrimos mão de bom grado daquilo que foi nosso.

Durante a aprendizagem do controle dos esfíncteres, é comum os bebês ficarem acenando para seu cocô, em uma despedida lúdica, antes que seja acionada a descarga e desapareça no vaso sanitário, assim fica mais fácil separar-se dele. Acontece na vida das crianças que elas desenvolvam distúrbios como a encoprese, no qual fazem suas necessidades na roupa. Esse tipo de acidente decorre da tentativa de reter seus dejetos, não entregá-los para ninguém, até que eles acabam escapando, quando não dá mais para segurar. Como se vê, nosso lixo corporal pode ser nojento, mas para nosso inconsciente maluco faz parte de nós e é difícil livrar-se dele. Uma sociedade que recicla seus dejetos atingiu pelo menos o nível dos pequenos que podem ir ao vaso sem a ajuda de um adulto. Estamos indo bem, algum dia seremos todos cidadãos adultos, deixando de acreditar que uma mão mágica de mãe vai limpar nossa sujeira.

(Publicado na Revista Vida Simples, edição especial, ecológica, de fim de ano)

Nenhum Comentário Ainda.

Comente este Post

Nota: Seu e-mail não será publicado.

Siga os comentários via RSS.