Todo mundo em pânico

Sobre os atentados 11 de setembro

“Inferno na Torre”, “Alien”, “Tubarão”, “Independence Day”, “Armagedon”, “Pânico”, “A Bruxa de Blair”, “O Exorcista”, a lista é infindável. Como se duas grandes guerras mundiais não houvessem nos saciado de traumas e catástrofes, produzimos o horror como forma de lazer. Por que precisaríamos cultuar os nossos medos?  

Aliada a essa constatação cultural, há uma evidência clínica: o sofrimento psíquico aparece cada vez mais sob a forma dos transtornos de angústia. Quem já sentiu essa dor sabe que a angústia quanto maior, mais se aproxima do pânico. O coração aperta, a respiração ofega, a morte bafeja a nuca e tudo isso sem maiores explicações…

Nosso tempo é o do medo difuso. Fica difícil combater um inimigo de contornos indefinidos, morada incerta, que nunca se sabe quando chegará. Quanto mais modernos, mais sentiremos angústia em lugar de medo. Foram –se os déspotas, as feras, as lendas, o diabo. Saíram de cena sem ruído, carregados pela retirada em bloco das tradições. Restou-nos a morte nua, sem disfarces. Neste quadro, nada melhor que dar nome aos bois, temos medo da bruxa, do dinossauro, dos maremotos, dos ETs., dos assassinos. Em vez de ameaça sentimos um alívio, pois dá-se rosto ao inimigo invisível.

Dia 11 de setembro talvez tenha mudado isto. Ali descobrimos que o trauma é a repetição incessante de uma imagem que não chegamos a compreender, por isso as torres gêmeas não pararão de cair frente aos nossos olhos pasmos, agora o medo tem uma face.

Diferente dos filmes, o terror que se materializou naquele dia joga o mundo inteiro na necessidade de elaborar um trauma. Fazer a guerra a qualquer preço,é inútil como tentar livrar-se da cena com uma borracha. Aos traumatizados da guerra, que não paravam de ver a bomba despedaçando seus companheiros, não adiantava propor-lhes que bombardeassem o inimigo como forma de alívio. Precisavam resignar-se a ter sobrevivido, convencer-se que não tinham culpa, tentar explicar o incompreensível. Hoje a cultura globalizada da angústia encontrou-se com os traumas das gerações precedentes. O mundo foi apresentado ao monstro, ao que habita no coração da sociedade que fingia estar curada da barbárie.

26/09/01 |
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