Uma princesa guerreira
Sobre o filme Branca de Neve e o Caçador e as novas princesas.
Por duzentos anos Branca de Neve sobreviveu na imaginação das crianças, fiel ao relato dos irmãos Grimm, pouco alterado por Disney. Essa história adormecida, sem nunca ter perdido as cores, pode-se dizer que acaba de ser novamente beijada.
2012 foi o ano da ressurreição da princesa morena, dois filmes a despertaram. Mas desta vez ela foi chamada à ação: em “Branca de Neve e o Caçador”, de Rupert Sanders, ela tornou-se uma princesa guerreira.
Essa trama confirma uma antiga suspeita: que a nova Rainha, a feiticeira Ravenna, assassinara o Rei. A enteada foi mantida prisioneira até que, como na história clássica, o espelho revele sua beleza. Agora a malvada não quer apenas matá-la e comer seu coração. A feiticeira Ravenna mantém-se linda e desejável vampirizando a juventude de jovens súditas. Branca de Neve é especial, pois lhe conferirá a vida eterna. Ao fugir, a princesa é ajudada por um cavalo branco, sem príncipe. Quando desperta de seu sono enfeitiçado não é para casar, é para liderar as tropas que derrotarão sua rival e salvar o reino aterrorizado pelo domínio nefasto de Ravenna. Já o Caçador é um jovem viúvo atormentado, que se culpa pela morte da esposa. Ele protege a moça paternalmente, lhe ensina lutar, mas se apaixona por ela. Ressurge também um amor infantil, William, que também é seu dedicado e apaixonado cavalheiro. Só que a princesa, convenhamos, tem mais o que fazer.
Muitas princesas sobreviveram ao esquecimento, várias conseguiram a juventude eterna. Branca de Neve foi a primeira delas a inaugurar um novo cânone: a princesa cantora de desenho animado. Só podia ser ela, novamente, a revolucionar o nicho das princesas clássicas: o amor não é mais o final feliz.
O que permanece? O fato de que crescer é tornar-se órfão. Nos contos de fadas a mãe amorosa morre rápido (quando na verdade é o filho perfeito que sucumbe, assim que começa a crescer e aparecer). É aí que as madrastas e bruxas são convocadas para representar os conflitos normais do desenvolvimento. E mais, a mulher terá que desbancar a mãe, cuja juventude fenece esperneando, superá-la em encantos. Deverá a seu modo matá-la, apropriar-se dos atributos femininos. Esse conflito alimenta a paixão das meninas por histórias de princesas e bruxas.
O que não tinha como sobreviver? A idéia de que a vida de uma mulher encontra o ápice no casamento. Da revolução de costumes dos anos sessenta, da libertação da tristeza pelos horizontes estreitos do lar, veio a certeza de que elas querem mais. Para nós, liderados por uma presidenta guerreira, não é uma surpresa.
PS: uma leitora me lembrou que era bom avisar que não é um filme para os pequenos! Concordo. Já para os grandinhos, até os já beeeem grandinhos como eu, é diversão garantida! Seguir pela vida afora em companhia de nossos contos de fadas prediletos, que se transformam para nos acompanhar, é uma experiência instigante. Se outrora eles animavam as veladas dos trabalhadores cansados, na voz dos contadores de histórias, hoje, através do cinema, eles nos reencontram já adultos. Igualmente cansados, agradecemos as boas doses de fantasia, que distraem e enriquecem. Ainda por cima nos re-conectam com a infância e com os personagens significativos da nossa história e constituição imaginária. Convém nunca esquecer, que mesmo depois que ela acabou, é a infância a matriz onde a fantasia nasce e se opera. Ali moram histórias que usamos como instrumentos para elaborar nossos pequenos problemas e dilemas. Nesse sentido, sou particularmente grata à Branca de Neve, que foi meu alter-ego durante alguns anos quando era criança. Foi muito bom reencontrá-la e torcer por ela em lutas e batalhas. Mesmo que a Charlize Teron (a bruxa) seja a mais bela…
Adorei o seu texto, estou louca para assistir o filme.
Esse site é maravilhoso!
Estou lendo o livro Fadas no Divã e estou adorando, acabei de recomendar ele em um de meus blogs!
Beijos da mais nova fã de vocês, principalmente sua!
obrigadão, mesmo, aline, p[elas tuas múltiplas leituras! aguardo opiniões e críticas, sempre bem vindas!
abraços
diana