Uma verdade inconveniente

Sobre o livro Ele simplesmente não está a fim de você

Nós mulheres somos tão inteligentes que por vezes parecemos burras. Essa é a idéia que fica quando lemos um livro simplório e divertido escrito pelos roteiristas de Sex and the City, chamado: Ele simplesmente não está a fim de você. Ele sublinha, repetida e insistentemente, nosso hábito de recobrir amores frustrados com milhares de desculpas e explicações.

Os relacionamentos que o livro fulmina são do tipo que não deslancha, nos quais nos sentimos desvalorizadas e desrespeitadas. Podem ter durado uma ou duas noites, mas nos custarão dias, horas, semanas pensando ou discutindo qual é a melhor estratégia para desentocar o sujeito. Vai ver que ele está com medo da mulher independente que sou, ou ele está num momento difícil de sua vida, ou ainda eu que não usei a estratégia certa! Arrolamos todas as hipóteses complexas e necessárias, só para não pensar na possibilidade mais simples: a de que não somos o tipo dele, ou que o encontro pode não ter sido interessante o suficiente para persistir.

Mas não pensem que isso é burrice, é uma bruta onipotência mesmo! Nos vemos como mulheres-orquestra capazes de tocar todos instrumentos, costumamos agir como se tudo dependesse unicamente das táticas e estratégias da sedução. Ignoramos facilmente que as relações são como uma sinfonia, da qual só tocamos uma parte e o diabo é quem rege. Na melhor das hipóteses temos metade do capital, o resto fica por conta do sócio… Porém, pós-feministas, passamos a crer que podemos sozinhas gerenciar isso também. Vã ilusão, o amor não obedece a critérios racionais e se escorrega ainda mais facilmente de quem tenta subjugá-lo.

Lembrem-se da regra básica número um: não há regras nos encontros e desencontros amorosos e generalizações não funcionam. Mesmo você sendo linda e perfeita, um homem chato e feio pode não se sentir atraído, quando deveria agradecer aos céus a oportunidade. Alguém pode passar uma vida do lado de outra pessoa porque ela tem um cabelo que lhe cai de certa forma. Há os que só amam estrangeiros, ou os que cresceram juntos na mesma rua; há os independentes, enquanto outros dependerão um do outro até para trocar o papel higiênico. Relações podem ser feitas de silêncios, ou de intermináveis negociações verbais. Há amores que se temperam de traições, de ambos os lados, outros necessitam de exclusividade, assim como também podem sentir-se satisfeitos os que se beneficiam da inapetência sexual do parceiro. E os que realmente não querem um casamento convencional?

O livro é tolo por que nos retrata buscando homens que são um estereótipo de bom mocismo e não aceitando nada diferente disso. Como se nós não soubéssemos ser também, total ou parcialmente, egoístas, inadequadas e até infiéis! O que nos resta é a regra básica número dois: se um relacionamento, ou um encontro, gasta mais saliva do que tempo de convivência deve ser reconsiderado. Ponto.

01/03/07 |
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