Verão de pai, verão de filho

Sobre o filme Houve uma vez dois verões

“Uma história de jovens contada por uma equipe quarentona”, esta é a definição de Jorge Furtado, para seu filme “Houve uma vez Dois Verões”. Talvez, a presença de seu filho no papel de um dos protagonistas ofereça uma resposta para a questão da relação possível hoje entre os jovens e seus pais quarentões.

No enredo, os amigos Juca e Chico discutem a paixão de um deles por Roza, moça mais velha, de reputação duvidosa, que proporciona a possibilidade de perder a virgindade. De menino bobalhão a homem, Chico segue o caminho de tantos personagens da literatura e do cinema, que inauguraram sua virilidade nos mistérios e fascínios de uma prostituta . Não é aí que está a novidade. Ela está na própria fabricação de “Dois Verões”, nesta tarefa compartilhada entre várias gerações, numa cumplicidade outrora impensável.

Numa entrevista, o diretor afirma que entre a adolescência de hoje e a que ele viveu, as diferenças estariam numa atual “certa ausência dos pais”. Eu diria o contrário, estão num certo tipo de presença que é bem ilustrada no filme. Em “Dois verões” não há pais nem personagens adultos relevantes em cena. Os pais são os quarentões por trás das câmeras. Eles têm razão: aos jovens hoje podemos oferecer os cenários de uma vida e um certo olhar.

Este olhar não é mudo, ele conta histórias, escuta ansiedades, mas acima de tudo suporta que o jovem terá que escrever sozinho seu roteiro. A adolescência acontece entre os pares, por isso no filme Chico e Juca tem que fazer suas bobagens e não adiantaria muito que os adultos tentassem ensinar o que só se aprende sofrendo de amores. Os pais podem estar presentes, mas apenas  no tempo anterior e posterior aos fatos.

Os pais que hoje são avós gritavam e impunham uma adolescência cheia de clandestinidades, dando origem ao “conflito entre gerações”. Eles não sabiam que seus filhos estão naquele momento ensurdecidos de solidão. A diferença que encontramos é que os novos pais parecem ter aprendido algo com a própria adolescência: a não esquece-la. É  por isso que tem condições de dialogar com seus filhos. Existe grande diferença entre um pai que possa lembrar de sua adolescência e aquele que tenta bancar o garotão. O primeiro é sábio o segundo é ridículo.

29/08/02 |
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