Viajando nas figurinhas
Em defesa da literatura em quadrinhos, porque imagens não valem por palavras, elas as geram, são indissociáveis como letra e música.
Na infância, além viagra quadrinhos, adorava livros ilustrados. Meus preferidos eram os que passei a ler quando maior, com uma ilustração a cada muitas páginas, que sequer eram bonitos, mais fiéis que criativos. Costumava voltar à gravura de tanto em tanto, na medida em que o texto ia acrescentando um detalhe. Por vezes, voltava só para sonhar sobre o conteúdo da obra, como se o portal para entrar na minha própria fantasia estivesse na imagem. A palavra impressa impunha seu ritmo, conduzia a imaginação, o que é bom. É melhor entrar num labirinto desses com a certeza de ter um guia e uma saída, um fim. Até hoje sou leitora lenta, mais divago do que leio. Pena, meus livros raramente são ilustrados. Saudosa, lembro das figuras como o melhor lugar para onde ir quando queria fantasiar sobre a fantasia e recorro à capa do livro, que detesto quando não contém figuras.
Adulta descobri um tesouro: as “graphic novels”, traduzidas por “romances gráficos”. São histórias longas contadas através de quadrinhos. Os exemplos mais populares são os maravilhosos “Persepolis” (Marjane Satrapi) e “Maus” (Art Spiegelman). Ao contrário da leitura breve e desatenta que por preconceito que costuma ser atribuída ao quadrinho, elas são detalhadas na construção da linguagem visual, sempre peculiar. Entrar numa delas é como desvendar uma novidade literária a cada vez, um novo estilo narrativo. Cada autor tem um traço, um modo de inserir as falas, personagens e ambientes se devotam à máxima eloqüência. Ali, página após página, reencontro os portais em que costumava me perder. O que na literatura era uma relação clandestina, aqui torna-se estável, reconhecida, é o centro das atenções. As imagens não valem por palavras. Elas não dizem, nos fazem dizer. Não discursam, põem nossa cabeça a falar. Nas novelas gráficas a literatura se aproxima do sonho.
Tudo isso para recomendar uma delas: “Asterios Polyp” (de David Mazzucchelli, Ed. Quadrinhos na Cia.). A história de um famoso arquiteto em crise, que após um incêndio que destrói seu apartamento no dia do qüinquagésimo aniversário, resolve abandonar a vida que tinha. Com o dinheiro do bolso compra uma passagem até onde esse valor possa levá-lo e lá experimenta fazer tudo diferente. É uma fantasia que já tivemos: sair para comprar uma Pepsi e nunca voltar. Fim de ano é época de promessas de mudança e de sonhar com viradas radicais. Asterios pode ser um bom cicerone nessa fantasia. Perca-se nessas imagens.
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minha predileta é “fun home”, autobiográfica, linda! abraços e grata pelo teu comentário!
diana
Sandman é uma Graphic Novel ótima também! Escrita pelo Neil Gaiman.
É sobre o mundo dos sonhos e o seu governante, o Perpétuo Sandman, ou Morpheus…
Não li muitas Graphic Novels, mas achei a melhor das que tive contato!
http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/sandman-um-sonho-dentro-do-sonho/
Abraços!