Zero Hora
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Mães de porta de escola

Sobre a culpa das mães ocupadas

Na porta da escola das minhas filhas, incontáveis vezes, escutei as outras mães combinando horários, prazos e conteúdo de trabalhos dos filhos, assim como resultados de provas, ou dificuldades em realizar determinada tarefa, como se fossem suas. São elas que chamo de mães de porta de escola. Isso sem falar nas feiras, exposições ou quermesses, para as quais eu sempre chegava com os itens solicitados, mas saía com a sensação de que não era bem isso. Participei como pude da gincana de horários e tarefas a que os pais são submetidos, nas apresentações musicais, de teatro, nas festas religiosas e apresentações que frequentemente eram feitas no meio da semana e do expediente. Continue lendo…

30/07/10 |
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Faltou resiliência

Sobre a fragilidade psíquica dos jogadores da seleção

Utiliza-se o termo “resiliência” para designar a capacidade que algumas pessoas teriam para resistir às provações sem sucumbir ao desespero, sem destruírem-se internamente quando algo no exterior lhes abala a integridade. Resilientes seriam os que sobrevivem psiquicamente aos diversos tipos de catástrofes pessoais e sociais, como traumas, torturas, deportações, perdas, abusos e maus tratos. Apesar de marcados por essas experiências, elas não os impedem de retomar uma vida relativamente normal. O conceito original vem da física, fala da capacidade de um material para resistir a choques, conservando sua forma original. Continue lendo…

30/07/10 |
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B@bel

Sobre uma campanha na internet em tempos de Copa

A internet é nova Torre de Babel, onde todos querem a comunicação universal e acabam dando espaço para mal-entendidos de proporções globais. É um meio onde a informação avança sem tempo para certificar-se de sua procedência, nem refletir sobre seu caráter.    

Uma divertida confusão anda circulando ao redor do mundo: estranhados com a difusão de uma frase – “cala a boca Galvão” – divulgada no Twitter e associada à presença dos brasileiros na Copa do Mundo, vários estrangeiros se interessaram em saber o que ela significa. Foram erroneamente informados por um vídeo postado no youtube que “cala a boca” quer dizer “save” e “galvão” é um pássaro raro em vias de extinção. Continue lendo…

30/06/10 |
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Sonata de Outono

Sobre filhos ressentidos

Amor de mãe é coisa muito bonita, da qual muito se fala nestes dias de outono, mas sua ausência pode tornar-se uma verdadeira obsessão para um filho. Notamos que quanto mais um filho for compulsivamente dedicado à sua mãe, quer seja na prática ou nos pensamentos, tanto menor será sua certeza de ter sido amado por ela. Se o vínculo materno-filial for consistente, seus protagonistas poderão tomar distância um do outro, sem pensamentos doentios de preocupação ou mágoa. Amor de mãe é como uma pedra fundamental: se a qualidade dessa base for pouco sólida, ao filho caberá preencher essa falha através de uma convocação interminável para que a mãe, ou mesmo as memórias dela, lhe ofereçam o sentimento de consistência que lhe falta.

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28/04/10 |
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Sexualidade colorida

Sobre as pulseirinhas do sexo

Quem busca um profissional do sexo muitas vezes combina o que quer comprar, e isso faz parte da objetividade do negócio. Parece que isso encontrou uma expressão entre os mais jovens, através de pulseirinhas do sexo: adereços de plástico coloridos que, quando rompidos pelo garoto, com o consentimento da menina, indicam que ela estaria disposta a praticar com ele desde um abraço até um ato mais ousado, designado conforme o código de cores. Eis a sexualidade, organizada conforme os códigos diretos da mercadoria, adaptada para tempos da vida cada vez mais precoces.

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14/04/10 |
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Mestres constrangidos

Sobre bullying afetando alunos e professores

Participei da gravação de um programa de televisão sobre bulliyng. Com o pessoal da TV Escola, buscávamos uma palavra em português para esse termo, que a esta altura já faz parte do vocabulário psico-pedagógico. Achamos que “constrangimento” era uma aproximação, embora parecesse suave para a carga de agressividade repetitiva e intencional, em geral ocorrida entre estudantes, que essa prática pressupõe. Derivado da palavra inglesa bully, valentão, o termo designa o achincalhamento, a humilhação sistemática que os mais fortes fazem sobre os mais fracos. Por vezes isso ocorre de forma pessoal e discreta, outras anônimas, através da internet, ou em público com o apoio de um grupo. Esse aviltamento de um aluno por outros está representado em todas as formas da ficção e é parte da vida escolar, tanto quanto os cadernos e o quadro negro. O debate em torno do assunto é recente, mas a literatura tem relatos muito antigos da violência praticada contra aqueles que se mostram quietos, sensíveis, ou diferentes em qualquer (mínimo) aspecto dos outros.

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31/03/10 |
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Bonde para elas

Sobre grupos de meninas violentas

Na idade da pedra do feminismo algumas mulheres livres adotavam vestimentas masculinas, por vezes até nomes ambíguos, para poder circular em ambientes que eram vedados às saias. A entrada no mercado de trabalho foi marcada por sucessivos movimentos de mimetismo com a identidade masculina, único modo estabelecido até então. Tão diferente da proclamada sensibilidade e delicadeza das mulheres, muitas adotaram condutas agressivas, de intransigência e intolerância, quando precisavam se impor em alguma posição de mando. Mas a violência física era uma exclusividade do homem, não foi uma característica incorporada pelas mulheres em busca de um lugar ao sol fora de casa.

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17/03/10 |
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Falha humana

Um grupo de pessoas se reuniu para fazer uma aposta na loteria e acertou. Quando foram conferir sua condição de premiados descobriram que a aposta não fora feita pela lotérica. A felicidade instantânea tornou-se pesadelo. Entre as explicações para esse triste desenlace, é que houve falha humana: a funcionária do estabelecimento não fez a aposta.

Um grupo de pessoas se reuniu para fazer uma aposta na loteria e acertou. Quando foram conferir sua condição de premiados descobriram que a aposta não fora feita pela lotérica. A felicidade instantânea tornou-se pesadelo. Entre as explicações para esse triste desenlace, é que houve falha humana: a funcionária do estabelecimento não fez a aposta.

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03/03/10 |
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Nossas coisas selvagens

Sobre o filme Onde vivem os monstros

Estrearam simultaneamente dois filmes de estética infantil, mas complexidade nem tanto. No Fantástico Sr. Raposo, um pai de família é incapaz de entender-se com seu filho e consigo próprio após perder a identidade juvenil de predador. É um belo filme sobre a paternidade contemporânea e a forma como a vida adulta, com suas convenções e chatices, não traduz o que mais prezamos em nós, que parece morrer junto com a irreverência da juventude.

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12/02/10 |
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Transmitindo sonhos

Sobre o livro Clube do Filme

Jesse era um garoto muito problemático, fracassava nos estudos, nada parecia realmente despertar seu interesse. Seu pai, um crítico de cinema canadense, acabou propondo-lhe uma solução ímpar para seu problema: poderia largar a escola se aceitasse participar de um “clube do filme”. Ele selecionaria três filmes por semana, programados de forma a dar ao rapaz uma idéia da sétima arte e de sua história. Jesse topou e passou a morar com o pai. Estabeleceram regras de convívio e partiram para os trabalhos no sofá da sala. David Gilmour descreveu essa experiência ímpar no livro Clube do Filme (Ed. Intrínseca). Continue lendo…

03/02/10 |
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