Zero Hora
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O Haiti não é aqui?

Sobre o terremoto

Um telefonema da minha tia tirou-me um pouco impotência frente às imagens do desastre haitiano; ela é voluntária e está embarcando para lá. Se alguém da família vai é como se eu fosse um pouquinho. Profissional madura, já esteve no Timor e trabalha na saúde pública, mas nunca viu o que provavelmente lhe espera: um hospital de campanha onde vai anestesiar para amputações. Parece que as guerras mundiais não acabaram, transmutaram-se em catástrofes, epidemias e miséria endêmica. Invejo-a por ser útil longe de casa.

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20/01/10 |
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Desequilibrados

Sobre o filme Avatar

Sigoruney Weaver voltou ao espaço, agora como uma cientista interplanetária, mas desta vez o Alien somos nós. O que já era sugerido nas experiências anteriores do diretor James Cameron agora é explícito: os homens, com sua voracidade capitalista, perderam totalmente seus resguardos morais e, principalmente, o equilíbrio. Avatar, o filme, com ou sem 3D, é uma experiência estética que não desaponta a quem gosta de mundo mágicos.

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06/01/10 |
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Os homens e sua caixa do nada

Sobre a subjetividade masculina

Nunca acreditei que os homens fossem de Marte e as mulheres de Vênus. Devido à minha natureza beligerante, acho que sou mais Marte. Se tivesse que escolher planetas para os sexos, destinaria toda a espécie feminina a Marte, graças à agressividade intrínseca e velada da relação entre nós mulheres. Quanto aos homens, não os identificaria com Vênus, porque nas questões do amor nunca serão nativos de planeta nenhum. Talvez os destinasse – por que não – à própria Terra, afinal andam tão desinteressados de grandes transcendências.

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Queremos tanto a Leila

Sobre a morte de uma atriz

Apesar de ser acusada de leviana e superficial, houve poucos que levaram nossos desejos tão a sério como ela. Acreditamos que a vida é curta para ser desperdiçada numa rotina medíocre, que emoções fortes garantiriam uma existência que valesse a pena. Ela tomou sonhos por desígnios e, por ser mulher, coube-lhe a aventura da paixão, a experiência venturosa do sexo. Como a realidade que lhe tocou negou-lhe as oportunidades de cortesã, foi nos livros que ela encontrou um cenário para seus sonhos. Como suas heroínas, em fantasia circulava pelos salões, vivia romances tórridos num ambiente opulento.

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09/12/09 |
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Água com Açúcar e Sangue

Sobre a série Crepúsculo

Cada fenômeno editorial fala de seu tempo. Se um livro vende mais de 55 milhões de exemplares, provoca furor entre adolescentes e, outros mais crescidos, convém investigar-lhe os segredos, certamente revelam algo nosso.

A série de romances da americana Stephenie Meyer, iniciada com Crepúsculo, estendida ao longo dos quatro gordos volumes já publicados, reencontra um ávido público leitor da mesma faixa etária que aclamou Harry Potter uma década atrás. Enquanto Rowling resgatou o valor da magia, o sucesso desta série nos revela overdoses de romantismo. Continue lendo…

30/11/09 |
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Em nome do filho

Sobre tatuar o nome dos filhos

Passei por um homem jovem e vi em seu braço forte, como o dos marinheiros de cartoon, uma tatuagem: era um nome de mulher, mas no outro braço havia um nome de homem. Não era um bissexual proclamando sua condição na pele, era um pai. Hoje em dia, numa celebração ao único amor certamente eterno, muitos tatuam o nome de seus filhos.

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25/11/09 |
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Poetas

Sobre Carpinejar e oTwitter como poesia

Faz tempo que Mário Quintana não nos visita. Jamais me ocorreu que o faria “twittando”. O twitter é uma rede de pessoas, ligadas pelos seus celulares e ou computadores que trocam mensagens de até 140 caracteres. Para tornar-se “seguidores” uns dos outros, os usuários do twitter se inscrevem uns com os outros, se “seguem”, para usar a terminologia deles. A pergunta que aparece antes do campo onde escrevemos a mensagem que será enviada a nossos seguidores é: o que você está fazendo agora? No começo e ainda em grande número, as respostas foram literalmente banais: “estou curtindo uma gripe”, “cheio de trabalho” ou “indo encontrar minha linda namorada”, isso entre recomendações ou críticas de eventos culturais, locais de lazer, restaurantes e produtos variados.

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11/11/09 |
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O terceiro incluído

Sobre o papel dos fil0hos nas separações

O que leva um garoto de 11 anos a esgueirar-se para dentro da carroceria de um ônibus, viajar nove horas clandestino sobre o pára-lama, 600 quilômetros rumo a Aparecida, para pagar uma promessa? Ele não foi em busca de arrancar da morte um ser querido, nem de dinheiro para driblar a miséria, nem sequer uma bicicleta ou namorada. Ele queria que os pais parassem de brigar. Esse excêntrico peregrino fez sua façanha semana passada em São Paulo.

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28/10/09 |
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Um filme Up sobre uma época Down

Sobre envelhecimento e o filme Up

Para os velhos o rugido da vida cotidiana diminuiu, talvez estejam mais surdos para ele por ficarem mais atentos aos ruídos internos. O corpo fica barulhento, como uma máquina antiga. Mas há também o barulho das lembranças, que chamam alto: eles vivem como se cada objeto fosse dar um discurso, cada lugar contasse a história de tantos outros onde já se esteve. Velhos ouvem vozes, no bom sentido. Muitas vezes os velhos distraem-se do que acontece fora porque tem muito para ouvir por dentro.

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14/09/09 |
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Médicos, monstros e deuses

Sobre o lugar que damos aos médicos e impunidade

Vivemos uma época hipocondríaca, nossas preocupações com a saúde, com o corpo nunca foram tão grandes. De uma maneira rápida, o hipocondríaco é uma espécie de paranóico manso, alguém que se sente ilusoriamente perseguido. Enquanto o primeiro teme um inimigo imaginário externo, os hipocondríacos são obcecados pelo que está dentro do corpo. Mas, é fato que a qualquer momento nosso corpo pode estar aprontando: hoje as viroses estão em foco, enquanto normalmente o complô predileto é o câncer, o que nos assombra pode tornar-se real e terrível. Contra tais perigos, nossos heróis são os médicos.

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02/09/09 |
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