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Mestres constrangidos

Sobre bullying afetando alunos e professores

Participei da gravação de um programa de televisão sobre bulliyng. Com o pessoal da TV Escola, buscávamos uma palavra em português para esse termo, que a esta altura já faz parte do vocabulário psico-pedagógico. Achamos que “constrangimento” era uma aproximação, embora parecesse suave para a carga de agressividade repetitiva e intencional, em geral ocorrida entre estudantes, que essa prática pressupõe. Derivado da palavra inglesa bully, valentão, o termo designa o achincalhamento, a humilhação sistemática que os mais fortes fazem sobre os mais fracos. Por vezes isso ocorre de forma pessoal e discreta, outras anônimas, através da internet, ou em público com o apoio de um grupo. Esse aviltamento de um aluno por outros está representado em todas as formas da ficção e é parte da vida escolar, tanto quanto os cadernos e o quadro negro. O debate em torno do assunto é recente, mas a literatura tem relatos muito antigos da violência praticada contra aqueles que se mostram quietos, sensíveis, ou diferentes em qualquer (mínimo) aspecto dos outros.

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31/03/10 |
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Bonde para elas

Sobre grupos de meninas violentas

Na idade da pedra do feminismo algumas mulheres livres adotavam vestimentas masculinas, por vezes até nomes ambíguos, para poder circular em ambientes que eram vedados às saias. A entrada no mercado de trabalho foi marcada por sucessivos movimentos de mimetismo com a identidade masculina, único modo estabelecido até então. Tão diferente da proclamada sensibilidade e delicadeza das mulheres, muitas adotaram condutas agressivas, de intransigência e intolerância, quando precisavam se impor em alguma posição de mando. Mas a violência física era uma exclusividade do homem, não foi uma característica incorporada pelas mulheres em busca de um lugar ao sol fora de casa.

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17/03/10 |
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Entrevista sobre literatura infantil

Concedida à Confraria Reinações em 05.03.2010

Palavra de confrade

1.Em que aspectos, na sua opinião, a literatura infanto-juvenil reina?
Ela reina, porque é a mãe não somente do leitor que um dia nos tornaremos, mas também de todo o universo onírico que carregamos vida afora. Fabricamos nossos próprios sonhos e fantasias; nosso artista interior não cessa de trabalhar, mas suas criações são formatadas pelas histórias que se escutou, leu ou assistiu. Neste caso, não restrinjo a literatura aos livros, já que toda história, mesmo que vire filme, peça, desenho animado ou série de televisão, em primeiro lugar, foi escrita. A criatividade é sedenta de fontes e quanto mais criativos formos menos precisaremos de pensamentos e soluções imediatos e prontos. Estas últimas podem tomar a forma do simples consumismo medíocre ou mesmo da imbecilidade fascista. A literatura infanto-juvenil reina tanto quanto conseguirmos seres humanos mais interessantes, e sua falta é origem da pobreza de espírito.

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Falha humana

Um grupo de pessoas se reuniu para fazer uma aposta na loteria e acertou. Quando foram conferir sua condição de premiados descobriram que a aposta não fora feita pela lotérica. A felicidade instantânea tornou-se pesadelo. Entre as explicações para esse triste desenlace, é que houve falha humana: a funcionária do estabelecimento não fez a aposta.

Um grupo de pessoas se reuniu para fazer uma aposta na loteria e acertou. Quando foram conferir sua condição de premiados descobriram que a aposta não fora feita pela lotérica. A felicidade instantânea tornou-se pesadelo. Entre as explicações para esse triste desenlace, é que houve falha humana: a funcionária do estabelecimento não fez a aposta.

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03/03/10 |
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Nossas coisas selvagens

Sobre o filme Onde vivem os monstros

Estrearam simultaneamente dois filmes de estética infantil, mas complexidade nem tanto. No Fantástico Sr. Raposo, um pai de família é incapaz de entender-se com seu filho e consigo próprio após perder a identidade juvenil de predador. É um belo filme sobre a paternidade contemporânea e a forma como a vida adulta, com suas convenções e chatices, não traduz o que mais prezamos em nós, que parece morrer junto com a irreverência da juventude.

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12/02/10 |
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Transmitindo sonhos

Sobre o livro Clube do Filme

Jesse era um garoto muito problemático, fracassava nos estudos, nada parecia realmente despertar seu interesse. Seu pai, um crítico de cinema canadense, acabou propondo-lhe uma solução ímpar para seu problema: poderia largar a escola se aceitasse participar de um “clube do filme”. Ele selecionaria três filmes por semana, programados de forma a dar ao rapaz uma idéia da sétima arte e de sua história. Jesse topou e passou a morar com o pai. Estabeleceram regras de convívio e partiram para os trabalhos no sofá da sala. David Gilmour descreveu essa experiência ímpar no livro Clube do Filme (Ed. Intrínseca). Continue lendo…

03/02/10 |
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O Haiti não é aqui?

Sobre o terremoto

Um telefonema da minha tia tirou-me um pouco impotência frente às imagens do desastre haitiano; ela é voluntária e está embarcando para lá. Se alguém da família vai é como se eu fosse um pouquinho. Profissional madura, já esteve no Timor e trabalha na saúde pública, mas nunca viu o que provavelmente lhe espera: um hospital de campanha onde vai anestesiar para amputações. Parece que as guerras mundiais não acabaram, transmutaram-se em catástrofes, epidemias e miséria endêmica. Invejo-a por ser útil longe de casa.

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20/01/10 |
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Desequilibrados

Sobre o filme Avatar

Sigoruney Weaver voltou ao espaço, agora como uma cientista interplanetária, mas desta vez o Alien somos nós. O que já era sugerido nas experiências anteriores do diretor James Cameron agora é explícito: os homens, com sua voracidade capitalista, perderam totalmente seus resguardos morais e, principalmente, o equilíbrio. Avatar, o filme, com ou sem 3D, é uma experiência estética que não desaponta a quem gosta de mundo mágicos.

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06/01/10 |
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Os homens e sua caixa do nada

Sobre a subjetividade masculina

Nunca acreditei que os homens fossem de Marte e as mulheres de Vênus. Devido à minha natureza beligerante, acho que sou mais Marte. Se tivesse que escolher planetas para os sexos, destinaria toda a espécie feminina a Marte, graças à agressividade intrínseca e velada da relação entre nós mulheres. Quanto aos homens, não os identificaria com Vênus, porque nas questões do amor nunca serão nativos de planeta nenhum. Talvez os destinasse – por que não – à própria Terra, afinal andam tão desinteressados de grandes transcendências.

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Queremos tanto a Leila

Sobre a morte de uma atriz

Apesar de ser acusada de leviana e superficial, houve poucos que levaram nossos desejos tão a sério como ela. Acreditamos que a vida é curta para ser desperdiçada numa rotina medíocre, que emoções fortes garantiriam uma existência que valesse a pena. Ela tomou sonhos por desígnios e, por ser mulher, coube-lhe a aventura da paixão, a experiência venturosa do sexo. Como a realidade que lhe tocou negou-lhe as oportunidades de cortesã, foi nos livros que ela encontrou um cenário para seus sonhos. Como suas heroínas, em fantasia circulava pelos salões, vivia romances tórridos num ambiente opulento.

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09/12/09 |
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